Semana passada, vazou a informação de que a Panini Comics estava registrando gibis em formato e-pub (digital). Isso abriu algumas questões sobre como anda o mercado de quadrinhos do Brasil. Como o mercado de gibis iria lidar com gibis sem lombada? Como ficaria a distribuição? Quanto vai custar? Quem vai explicar o fim de Crise Final? Quem iria responder tudo isso?
Resposta: eu. (Mas Crise Final é explicado em um excelente ComicPod.)
Primeiramente, vale deixar claro que a informação de que a Panini vai lançar gibis digitais foi confirmada exclusivamente por fontes dentro da editora. Compilei tudo em um fio no twitter e deixei claros alguns dados. Resumidamente: no primeiro estágio, os gibis devem ser vendidos em formato individual, ainda não foi divulgada a tabela de preços e a ideia deve ser seguir o mesmo formato de venda de mangás digitais da editora italiana.
Essa notícia, de certa forma, pegou vários leitores da Panini de surpresa. O público vem pedindo novos formatos de venda desde quando a Marvel anunciou o “Marvel Now”, em 2012. Os brasileiros se sentiam abandonados pela Casa das Ideias, pois ela não fazia pressão para a Panini distribuir seus quadrinhos de forma digital, fazendo com que muitos leitores acabassem gastando mais dinheiro para se manter alinhados com o que era lançado nos EUA, ou esperassem cerca de oito meses para ler as histórias.
O formato digital de venda de quadrinhos é uma das melhores coisas que poderia acontecer no nosso atual cenário de vendas no BR, por alguns motivos:
- Distribuição: quadrinho digital não precisa viajar por terra ou ar. Basta upar no servidor e a coisa está resolvida;
- Preço: mesmo que o preço não seja acessível no início, você pode esperar promoções ou a venda de packs de lançamento, como é feito pelo Comixology, onde você consegue comprar runs inteiros por preços bem módicos;
- Durabilidade e espaço: você vai poder ter coleções enormes dentro do HD de seus aparelhos, sem a dificuldade de elas se perderem, rasgarem ou serem roídas;
- Consulta acadêmica: talvez uma das melhores coisas que podem acontecer é você pode fazer estudo acadêmicos a partir de lançamentos digitais, pois eles não esgotam ou saem de linha;
- Periodicidade: em um segundo estágio, a Panini poderia diminuir um pouco o espaço de lançamentos entre as edições em inglês e as nacionais. Seria interessante ter gibis saindo simultaneamente, toda quarta, nos EUA e no Brasil;
- E o mais importante: NÃO TEM LOMBADA!!!! (#sacanagem)
Vejo com muito bons olhos esse novo formato de vendas da Marvel no Brasil. Ela pode trazer mais leitores ou pelo menos conseguir atrair mais crianças para a leitura, pois com cada vez temos menos bancas nas ruas, e os jovens estão cada vez mais ligados em aparelhos tecnológicos. Os quadrinhos podem passar a ser um passatempo mais interessante dentro de alguns lares.
A Panini já disse que ainda não pensa em um sistema de assinatura como o acontece com o Marvel Unlimited e nem abriu espaço para uma parceria nesse sentido. Porém, no cenário brasileiro esse formato seria o que melhor se adequaria para os leitores tupiniquins. Formato streaming estilo Netflix, Prime Video, HBO GO e afins, de assinatura com pagamento mensal e aproveitando uma gama de produtos. O mesmo formato de assinaturas que o site Social Comics utiliza.
Lembrando que esse formato de vendas digitais já foi testado no Brasil com Fabiano “Oggh” Dernadim quando ele criou a loja de quadrinhos digitais Mais Gibis. Na plataforma, eram disponibilizados alguns gibis grátis, várias mensais da Mythos Editora, como Juiz Dredd Magazine, encadernados do Conan e do Juiz Dredd. Infelizmente, o site foi descontinuado por conta do alto custo para manter servidores, royalties e a baixa adesão dos leitores.
Coisas boas podem acontecer no futuro. Claro que ainda existem muitas dúvidas de como tudo isso vai se desenrolar, e alguns problemas estruturais que podem aparecer no meio desse tempo. Isso foi brilhantemente comentado pelo ex-editor da JBC Cassius Medauar em sua coluna no Publish News, e o Vinicius, do 2 Quadrinhos, também pontua em seu vlog, mas, em um primeiro momento, prefiro ver essa investida como evolutiva e mais uma forma de ler quadrinhos no Brasil. Porque gibis nunca são demais.