Ao contrário do que acontecia nos anos 90, o Batman vende – e muito – no Brasil dos anos 2010. E a Panini, que sabe ganhar dinheiro com seu fandom, não deixa de capitalizar isso. Recentemente, tivemos a invasão de material antigo do morcego em encadernados capa dura. É um material legal, compilado em edições bem feitas, que agrada tanto a novos fãs quanto aos que leram isso em revistas esparsas da Abril (Batman em formato americano, em formatinho, Novos Titãs, DC 2000, etc), sem dúvidas.
O problema é a forma totalmente sem lógica utilizada na escolha e ordem dos materiais destes encadernados.
Quer Batman? Tome capa dura!
Em 2009, a Panini lançou o encadernado em capa dura Batman: Morte em Família, que contém o arco homônimo com a morte do Robin II – Jason Todd, e o “Um Lugar Solitário para Morrer”, no qual o Tim Drake se torna o Robin III. Este encadernado, relançado em 2019, contém as edições americanas da mensal Batman #426-429 e #440-442, além das edições de The New Teen Titans #60-61. O volume foi republicado em 2019 e abriu a porteira pros demais encadernados.
Em abril de 2019, foi publicado Batman: As Dez Noites da Besta e Outras Histórias, que conta com o arco-título e mais uma série de histórias também escritas por Jim Starlin, publicadas nos EUA em Batman #417-421 (“Dez Noites”), #422-425 e #430-431 (demais histórias), além de Batman Annual #12.
Três meses depois, em julho de 2019, a Panini lançou o As Muitas Mortes de Batman e Outras Histórias que, além de “Muitas Mortes”, conta com o arco “Ano Três” e algumas histórias fechadas/arcos de duas partes completam a edição. Tudo isso saiu lá fora em Batman #433-439, #443-444 e Batman Annual #13.
E aí está o problema, basta repararmos as numerações das mensais do personagem em cada volume!
Cronologicamente, a 1ª história/arco é “Dez Noites” no encadernado com o mesmo nome, e logo depois vem o declínio e descontrole do Jason Todd também nesse volume, cuja continuação e clímax ocorrem no Morte em Família (que saiu antes do Dez Noites), depois você volta pro Dez Noites, avança para o 1º arco de Muitas Mortes, depois volta pro Dez Noites em suas “outras histórias”, aí vem Um Lugar Para Morrer (do Morte em Família) e vai de novo pro Muitas Mortes.
Complicado, né? Vamos esquematizar a ordem correta de leitura e onde cada edição está:
- Batman #417-421 (Dez Noites, arco principal)
- Batman #422-425 (Dez Noites, demais histórias)
- Batman #426-429 (Morte em Família, arco principal)
- Batman #430-431 (Dez Noites, demais histórias)
- Batman #433-439 (Muitas Mortes, arco principal e demais histórias)
- Batman #440-442 (Morte em Família, arco “Um Lugar Solitário para Morrer”)
- Batman #443-444 (Muitas Mortes, demais histórias)
Pronto. Agora basta pegar os três encadernados pesadinhos, abrir esse post aqui, botar um suquinho no copo e ler corretamente essa bela fase do homem morcego. Mas não paremos por aí.
Coerência temática?
O que me chamou a atenção para a (des)ordem de leitura desses volumes foi a releitura de Batman Anual #2, da Abril, na ocasião da gravação do Pilha de Gibis #98 – Duas Caras, sobre a primeira história desta edição, “O Olho de Quem Vê”, uma excelente história de origem do Duas Caras – ouça o podcast no link acima, vale a pena!
Isso porque a história que fecha este Anual é a “continuação espiritual” de “As Dez Noites da Besta”, aqui chamada “Quando a Terra Morre” – na qual o discípulo do KGBesta, o NKVDemônio, é perseguido pelo Batman em Moscou, enquanto tenta assassinar o então presidente soviético Mikhail Gorbachev. Este arco em duas partes (Batman #445-446) fecharia muito bem o encadernado As Dez Noites da Besta e Outras Histórias, seja pela temática, seja pela dobradinha com Jim Starlin no texto do arco título e Marv Wolfman na sua continuação. Mas não foi o que a Panini decidiu, e esta boa história segue sem republicação no país desde 1992.
Mais curioso ainda, em seu lugar a editora escolheu publicar o arco anterior ao “Quando a Terra Morre”, que coincidentemente também está no anual da Abril, e é bem inferior: “A Chegada do Engenheiro do Crime”…
…só que publicado no volume As Muitas Mortes. Heh.
Custava publicar na ordem?
Claramente, a ideia de algum editor – e fã do Batman – foi conseguir publicar toda a fase “do jeito que dava”, o que fica claro pela ordem de leitura que fizemos aqui. Porém, a mesma editora dispõe há algum tempo de outro formato muito melhor para a publicação lógica da fase: o Lendas do Universo DC /Lendas do Cavaleiro das Trevas.
Infelizmente, a rentabilidade do personagem, a ânsia editorial e a já conhecida e turbulenta programação da Panini fizeram-na optar por estes luxuosos e confusos volumes.
Vale lembrar que esta não é a primeira vez, em tempos recentes, que a editora acaba por desconsiderar a ordem de leitura em prol de lançamentos/formatos questionáveis: o arco/crossover Vingadores: Infinito contava com uma minissérie principal e interligações com as duas mensais dos Vingadores – que vinham saindo aqui na coleção capa dura Nova Marvel – saiu em três encadernados independentes, sem ordem lógica de leitura ou qualquer orientação editorial que apontasse uma ordem.
O jeito, nesse outro caso, é quebrar a cabeça para saber onde cada uma se encaixa. Ou deixar a gente fazer isso num próximo post, quem sabe?
Um comentário sobre “Santa Confusão de Encadernados, Batman!”