Tenho o dever moral de começar logo afirmando que AMO Chuck Dixon. É um dos meus roteiristas favoritos nessa indústria vital (ah, cara, ninguém vive apenas de Alan Moore e Neil Gaiman). Sou suspeito, pois tenho uma relação afetiva com toda a equipe criativa do Batman pós-Crise, até praticamente Crise Infinita. Indo mais além, o Morcego foi um dos poucos personagens que passou ileso ao conceito errado e maluco que você, por um acaso, possa vir a ter dos quadrinhos das majors norte-americanas nos anos 1990 – mas esse não é o assunto.
Com Graham Nolan, o negócio é ainda pior. Eram sempre as primeiras histórias que eu lia. Achava aquele seu traço coisa linda. Um encanto tão grande que nem sei como descrever sua arte (tentei para ilustrar esse post, mas não me veio nada à mente). Pois bem, os dois (Dixon e Nolan) juntamente com o roteirista Doug Moench, criaram o Bane no comecinho da década de 1990. Ali, eles tinham um único objetivo: dar vida a um vilão que fosse capaz de derrotar o Batman de uma forma definitiva. O maior problema disso é que, depois que o “serviço” é feito, o cara perde a serventia.
E Bane perdeu. Talvez as pessoas lembrem-se mais dele como Antonio Diego de Batman & Robin, o filme de 1997, do que sua vida nos quadrinhos após a Queda do Morcego. Eu pouco me lembro. Sei que ele descobriu que o Rei Cobra era seu pai, ajudou o Batman, tomou banho no Poço de Lázaro, se livrou do Veneno, teve recaída e precisou de uma fonoaudióloga quando voltou aos cinemas, dessa vez em Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, interpretado por Tom Hardy.
Há pouco tempo, já no Renascimento DC, voltou a incomodar o Morcego no arco “I Am Suicide” (“Eu Sou Suicida”), escrito por Tom King (a bem da verdade, Batman que foi lá incomodá-lo, mas isso não vem ao caso. Calma, não é spoiler). Não sei se isso despertou um interesse pelo personagem, mas a DC Comics chamou a dupla Dixon e Nolan para escrever uma maxissérie em 12 partes com o vilão. A primeira edição saiu, lá fora, no começo desse mês de maio.
A primeira parte da história, intitulada “The Sword” (“A Espada”), começa de um jeito que muito me lembrou aqueles filmes de ação dos anos 1980, a diferença que Bane é auxiliado por um drone, pilotado por um comparsa em um barco (a história se passa no mar; se fosse na cidade, o comparsa estaria num furgão). Ele invade um navio sozinho, mata todo mundo (a violência gráfica nesse começo é grande) e descobre que havia um gigantesco carregamento de armas. “Não é trabalho de gangue, é coisa de terrorista”, teria dito um de seus aliados. A tara interminável de Bane com Gotham, também, se faz muito presente. Disposto a descobrir quem diabo estava levando aquele navio pra sua cidade preferida no mundo inteiro, ele sai perseguindo e torturando a bandidagem em busca de informações.
O que (talvez) você precisa saber? Apenas duas coisas. Primeiro: Batman só aparece de relance, pulando entre prédios acima do Bane (e, aparentemente, o ignorando); apenas um quadro com sua capa de relance. Segundo: ele captura um chefão que, na verdade, entrega outro chefão após ser torturado, e esse segundo chefão embosca Bane e o captura.
Sinceramente, com um mínimo de esforço daria pra saber aonde vamos chegar em fevereiro de 2018, quando termina Bane: Conquest (e quem sabe começará a sair por aqui). Prefiro evitar a fadiga. É uma história bem normal de ação, invasão violenta (no início), de perseguição urbana e aquele final “te peguei de calças curtas” que você já estava esperando, de certa forma. Bane ainda tem uns pesadelos com seu passado, então, com certeza, isso será explorado lá pelo miolo da série. Ela também aparenta ser bem inteligente, como era no início, o que deve ser a diferença no final. Enfim, se você é “das antiga”, isso aqui caberia nuns dois SuperPowers da Abril Jovem ou numa mini quinzenal em seis partes, formato americano e, com sorte, capa metalizada.
A coisa mais óbvia é que essa série vai ser bem qualquer nota e no final ficaremos com a sensação de que ela não precisava vir ao mundo. Veja bem, 12 edições de uma história do Bane, em pleno século XXI, é dose pra leão. Até os desenhos do Nolan estão “estranhos” aos meus olhos, muito estilizados, numa outra pegada. Não ruim: apenas quero meu Nolanzinho de volta. Acho que essa ideia de “back to basics” que permeia o Renascimento DC não precisa ir tão longe. Se é pra fazer isso, tragam o Batman detetive de volta. Isso me faz mais falta do que o Bane.
Roteiro: Chuck Dixon.
Arte: Graham Nolan.
Editor: Chris Conroy.
Capa: Graham Nolan e Gregory Wright.
Publicação original: Bane: Conquest #1 (maio de 2017).
No Brasil: -
Nota dos editores: 3.1