Batman – Cavaleiro das Trevas, Cidade das Trevas

4.0

NOTA DO AUTOR

A Panini publicou esse ano uns poucos encadernados do Batman – ali da altura do número 400 da série original iniciada no pós-Crise e encerrada com Os Novos 52 – de forma bem desordenada e sem qualquer sentido aparente (ao menos para mim). “Cavaleiro das Trevas, Cidade das Trevas” poderia aparecer aqui nessa loucura editorial, posto que sua primeira e única publicação brasileira saiu picotada na terceira série da Abril Jovem (aquela em formato americano e que formou uma geração de leitores acostumados com grandes histórias muito bem desenhadas). Além de ser uma ótima oportunidade de ler o morcego do subestimado Peter Milligan, que retornaria muito tempo depois ao personagem (já na época da Panini). Como o título entrega, nessa história em três partes o inglês envereda para o horror e rituais macabros com uma boa dose de loucura.

Nos Estados Unidos antes da independência, um grupo de homens influentes (entre eles um jovem Thomas Jefferson) realiza um ritual macabro, envolvendo sacrifício humano, com o intuito de controlar um demônio em forma de morcego. (Sim, eu sei. Eu sei.) Anos depois, um dos sobreviventes escreve o relato sobre o ocorrido, escondido no Canadá. Corta para o presente: a gangue do Charada rouba uma loja de antiguidades e o relato antigo acaba nas mãos do vilão. De alguma forma, o diário causa um forte impacto em Edward Nygma, que fica obcecado em refazer o mesmo ritual macabro na Gotham City moderna. E, claro, envolvendo o Homem Morcego. Para tanto, Nygma bola um plano engenhoso, sequestrando quatro bebês recém-nascidos e até hipnotizando uma mulher. Com pistas tão díspares e sem qualquer sentido em seus atos, Batman se vê perdido na resolução desse mistério. O que tenciona fazer o Charada com as crianças? E por que salvou a vida de seu grande inimigo?

Ao redor desses mistérios, Peter Milligan aprofunda o horror iniciado nos flashbacks coloniais. Zumbis, banho de sangue, rituais demoníacos: Gotham parece o local ideal para esse tipo de história. A cidade é bem explorada pela equipe criativa, quando Batman percorre as ruas da cidade em busca do Charada, sem muito sucesso. O maior detetive do mundo se perde ao não encontrar padrões lógicos no jogo do Charada, que parece encurralar o herói cada vez mais. Ao final de tudo, o plano se descortina e por muito pouco Bruce Wayne não passa dessa para melhor.

Na arte, a história também se destaca. Primeiros nas capas de Mike Mignola, já com seu traço característico e dando o clima que a trama pede. Belíssimas capas. Os desenhos do sumido Kieron Dwyer (lembra dele no Capitão América?) com arte-final de Dennis Janke ficaram uma maravilha, casando perfeitamente com a proposta do roteiro. A dupla imprime bem um tom mais sombrio, com grandes cenas de ação numa arte bem dinâmica. As ruas da cidade são exatamente aquilo que imaginamos, de uma forma até mais assustadora, indo além da violência habitual. Fizeram também um batmóvel muito estiloso, futurista e diferentão, desses que se destacam na imensa galeria de automóveis do morcego. Resta esperar que a Panini relance essa história por aqui, em meio a esse caos de republicações do Batman.

Em tempo: os conceitos criados por Milligan e Dwyer foram reaproveitados por Grant Morrison, em sua longa passagem nas mensais Batman, Batman & Robin e na minissérie O Retorno de Bruce Wayne. A entidade morcego demoníaca (Barbathos) acabou se tornando essencial para as tramas e foi revelada como uma arma à serviço de Darkseid. Mas isso é, literalmente, uma outra história…

 

  

Roteiro: Peter Milligan

Arte: Kieron Dwyer e Dennis Janke

Editor: Dennis O'Neil

Capa: Mike Mignola

Publicação original: Batman #452 a #454 (agosto e setembro de 1990)

No Brasil: Batman #18 e #19 (3ª Série da Abril, julho e agosto de 1991)

Nota dos editores:  4.0


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