Men of Wrath é uma minissérie em cinco partes publicada pelo selo Icon, da Marvel Comics, entre o final de 2014 e o início de 2015. A dupla por trás desse gibi é o escritor Jason Aaron e o desenhista Ron Garney. Na época, Aaron crescia a passos largos na editora e seu Thor era um sucesso de público e crítica. Mesmo produzindo muito na Marvel – e a demanda não cessaria -, Aaron sempre encontrou tempo para seus projetos autorais; não nos esqueçamos que foi com Escalpo, pela concorrente DC/Vertigo, que o escritor chamou a nossa atenção. Garney, por sua vez, é um grande conhecido do público brasileiro desde os tempos dos formatinhos da Abril Jovem. Recentemente, seu trabalho pode ser visto nos encadernados do Demolidor com roteiros de Charles Soule (e cores de Matt Milla, que igualmente coloriu a minissérie).
Em Man of Wrath seguimos os passos da família Rath no interior do Alabama, sul dos Estados Unidos (região que ele revisitaria em outra série, Southern Bastards, lançada pela Image Comics). O nome da família “indica” a temática: violência, ódio e vingança. Os Rath deixaram um rastro de sangue que vem desde os tempos mais distantes, com a chegada da família aos Estados Unidos: quando Isom Rath matou um homem por causa de algumas ovelhas em seu terreno. Um século passou, e acompanhamos um velho Ira Rath, bisneto de Isom, como um assassino de aluguel trabalhando no Alabama. A sina de violência da família parecia compor uma herança maldita dos Rath até chegarmos ao filho de Ira: Ruben Rath não leva muito jeito nesse trabalho, vivendo de pequenos golpes e furtos. Prestes a ser pai, Ruben precisa arrumar dinheiro. De preferência, fácil. Uma caça a cavalos parecia a oportunidade ideal – é nesse momento que o círculo da família Rath se fecha.
Jason Aaron monta uma história de começa com vingança e se encerra com vingança. No entanto, ao fundo e sem perder de vista, temos a história de uma família e com os laços de sangue fazem uma grande diferença. E sangue, muito sangue. A morte persegue os Rath e o que fica claro é que a melhor forma de se livrar da morte é justamente abraçando-a. Não há escapatória, não se foge do destino traçado nem de uma herança familiar. Uma mensagem pesada – mas não há indicação de final feliz em momento algum.
Ron Garney, por sua vez, está muito bem, obrigado. O tom da história é dado pela arte, com tons escuros e flashbacks que mudam com o passar do tempo. Em plena forma, sua narrativa é concisa, com grandes cenas de ação, tiroteios intermináveis e aquela sensação de que o perigo está muito próximo. O semblante dos personagens é carregado: Ira Rath é um Clint Eastwood em Gran Torino ainda mais carrancudo e absurdamente violento. Um homem que carrega o peso de suas ações e o legado de sua família, tendo no horizonte apenas a morte, tiros e sangue. Tudo isso aparece nos desenhos de Garney; a sintonia de texto e arte é o diferencial desse gibi.
Se sua praia é violência desmedida num faroeste moderno e carregado no drama, Men of Wrath não tem erro. Uma arte competente do Garney, daquelas que dá gosto e mostra bem o que é a história. E o texto do Aaron aqui está o fino: uma trama bem construída, enxuta e com ótimos diálogos. Personagens com um peso enorme nos ombros e todo aquele clima que, desde o começo, você percebe que não vai terminar muito bem. Um gibi tenso, que te passa aquela sensação de medo cotidiano num local onde não há pessoas boas. E sabe do que mais? Daria um filmaço.
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