Os melhores quadrinhos indie internacionais de 2019

2019 foi um ano bastante prolífico em termos de lançamentos em quadrinhos tanto nas editoras mainstream quanto nas alternativas. Vivemos um ano intenso no qual o leitor teve que se esforçar para acompanhar a quantidade de material interessante que saía semanalmente nas comic shops lá fora. Logicamente, em meio a essa avalanche de material interessante muita coisa acaba passando despercebida, principalmente fora do eixo Marvel e DC. A lista abaixo compila uma boa seleção com os principais quadrinhos de editoras fora do “eixo do mal” em 2019 para você já ficar atento ao que pode vir para o Brasil em breve ou mesmo adquirir o material importado.

 DIE

Die (que é um trocadilho entre o verbo “morrer” e a palavra “dado”) é um quadrinho de fantasia de Kieron Gillen com arte de Stephanie Hans lançado pela Image Comics ambientado em um mundo no qual um grupo de adolescentes é sugado para um jogo de RPG de fantasia sombria. Depois de escapar da experiência traumática com muitas sequelas emocionais e físicas, o grupo é forçado a voltar a este mundo anos depois como adultos e confrontar algo que deixaram para trás. Uma carta de amor de Gillen aos RPGs de mesa (inclusive o próprio autor desenvolveu um jogo baseado no quadrinho) com arte bastante consistente de Hans. Para os fãs da fase de Gillen em Journey into Mystery na Marvel é um quadrinho com aquela mesma pegada.

OLYMPIA

Atenção fãs de Jack Kirby e histórias emotivas! Olympia é o seu quadrinho em 2019/2020. Elon é um garoto solitário que passa os dias sozinho lendo gibis – até que seu super-herói favorito, Olympian, sai das páginas completamente atordoado e se torna realidade. Mas enquanto Elon cuida de seu herói ferido e delirante de volta à saúde, ele descobre que a chegada de Olympian não é a única coisa que aconteceu… Algo de mal o seguiu de seus quadrinhos. Uma carta de amor cômica e sincera a nossa amada mídia, Olympia também é uma meditação sobre esperança e perda, concebida por Curt Pires (Wyrd) e seu pai, Tony Pires, enquanto Tony estava em tratamento para câncer.

BITTER ROOT 

David F. Walker e Sanford Greene, a equipe criativa de Power Man and Iron Fist, juntamente com o veterano dos gibis indie Chuck Brown (Trench Coats, Cigarettes e Shotguns) criaram em 2018 uma espécie de Caça-Fantasmas da cultura afro-americana neste quadrinho. A série foi lançada no final de 2018, mas realmente pegou tração em 2019. Na década de 1920, o Renascimento do Harlem está em pleno andamento, e somente a Família Sangerye pode salvar Nova York – e o mundo – das forças sobrenaturais que ameaçam destruir a humanidade. Mas a outrora grande família de caçadores de monstros foi dilacerada por tragédias e códigos morais conflitantes. A Família Sangerye deve curar as feridas do passado e ir além de suas diferenças… Ou sentar e assistir uma força de mal inimaginável assolar a raça humana. Ação, monstros, caos e disfunção familiar a vontade. Tudo no traço sensacional de Greene. Ah… e o quadrinho tem perspectiva de adaptação para o cinema por ninguém menos que Ryan Cogler, diretor de Pantera Negra.

SARA

A novíssima editora TKO foi fundada em 2018 mas realmente abalou o mercado indie de quadrinhos em 2019. A ascensão da TKO foi capitaneada pelo lançamento de um épico de guerra dos consagrados Garth Ennis e Steve Epting. No inverno frio de 1942, a atiradora soviética Sara e suas companheiras lutam contra invasores nazistas. Deixando a habitual escatologia de lado Ennis nos entrega um quadrinho tenso inspirado em fatos reais no qual mulheres combatem nazistas. Não precisa dizer mais nada.

GOODNIGHT PARADISE

Mais um lançamento impressionante da TKO em 2019 é o thriller noir social de Joshua Dysart (Soldado Desconhecido, Imperium, Harbinger) e Alberto Ponticelli com Giulia BruscoEddie, o principal protagonista, é um homem sem-teto que luta com sobriedade e realidade crescente, em Venice Beach, Califórnia. Um homem gentil que é atormentado com muitos pensamentos e sentimentos sobre seu passado e seu presente, Eddie se vê no meio de uma tragédia sombria e sinistra que atinge sua comunidade à beira-mar. Com nada além de um telefone barato que ele mal se lembra de possuir, um desejo avassalador e irracional de encontrar respostas, e qualquer cerveja que ele puder colocar em seu poder, Eddie está prestes a queimar Venice Beach com as perguntas que encontrou enterradas em uma lixeira. Mas quando você mora nas ruas e tem uma profunda desconfiança em relação à autoridade e à lei, o que você pode fazer para levar a justiça aos menos favorecidos? Um roteiro extremamente sensível e inteligente de Dysart que mistura de forma homogênea investigação e crítica social certeira.

PSI-LORDS

O quadrinho da Tropa dos Lanternas Verdes que realmente vale está na Valiant. Se em 2019 não tivéssemos o magnífico trabalho de Grant Morrison no quadrinho principal do Lanterna Verda, Psi-Lords levaria o título de gibi dos Lanternas de 2019 mesmo sendo publicado fora da DC Comics. A aventura sci-fi regada a ação de Fred Van Lente com a incrível arte do brasileiro Renato Guedes é uma leitura rápida, objetiva e que acerta em cheio o coração do fã de aventuras cósmicas de super-heróis. Começando com um drama em uma prisão espacial e escalonando para os confins do universo Valiant Psi-Lords se consolida como uma grata surpresa em um gênero bem saturado atualmente.

THE WHITE TREES

Chip Zdarsky teve realmente um ano inspirado em 2019. Além de seus sucesso com o Homem-Aranha, Invasores e Demolidor na Marvel, o autor ainda emplacou pela Image um de seus melhores trabalhos em The White Trees. Se unindo aos artistas de Star Lord e FugitivosKris Anka e Matt Wilson, Zadarsky conta a história do fantástico mundo de Blacksand. Um mundo no qual a paz foi conquistada com dificuldade, e três guerreiros inflexíveis carregam as cicatrizes para provar isso. Agora, quase vinte anos depois, seus filhos estão desaparecidos e uma nova guerra está no horizonte. Os 3 devem deixar de lado suas memórias da guerra e fazer o que deve ser feito. Com uma premissa extremamente simples e ambientado em um contexto fantástico, The White Trees se destaca pelo mergulho honesto na psique de seus protagonistas em seus momentos de desespero mais sombrios.

SOMETHING IS KILLING THE CHILDREN

Algo está matando as crianças na BOOM! Studios e essa história se tornou rapidamente um dos melhores quadrinhos de terror de 2019. Quando as crianças de Archer’s Peak começam a desaparecer, tudo parece inútil. A maioria das crianças nunca volta, mas as que voltam contam histórias terríveis – histórias impossíveis sobre criaturas aterrorizantes que vivem nas sombras. Sua única esperança de encontrar e eliminar esta ameaça é a chegada de uma estranha misteriosa, alguém que acredita nas crianças e afirma ver o que elas podem ver. O nome dela é Erica Slaughter. Ela mata monstros. Isso é tudo o que ela faz. James Tynion IV (MemeticBatman: Detective Comics) se une ao artista Werther Dell’Edera (Briggs Land) para o terror mais direto lançado este ano. Roteiro acelerado, mistério na medida certa, brutalidade, vísceras e muito maldade são a receita perfeita para uma leitura que perdura na mente mesmo após você largar o gibi.

EVERYTHING

Everything é uma das coisas mais estranhas lançadas em termos de quadrinhos em 2019. A série do selo Berger Books da Dark Horse retrata uma nova e brilhante mega loja de departamentos que chega e cria um hype absurdo e rapidamente se transforma em uma mania inexplicável na pequena cidade de Holland, Michigan. Quando incêndios infernais aleatórios e distúrbios psíquicos ​​começam a invadir a comunidade, moradores como Lori e Rick começam a suspeitar que tudo (everything) está muito errado. De Christopher Cantwell, aclamado escritor de She Could Fly e co-criador de Halt and Catch Fire da AMC, e célebre artista I.N.J. Culbard (The New DeadwardiansBrink) a série logo em sua primeira edição chama a atenção e prende o leitor por sua estranheza, roteiro mórbido e uma arte comicamente perturbadora.

MONEY SHOT

Tim Seeley e Rebekah Isaacs foram longe demais em 2019. E isso é ótimo. Money Shot é um sci-fi pornográfico lançado pela Vault Comics no ano passado que cativa desde as suas primeiras páginas. Num futuro próximo, as viagens espaciais são ridiculamente caras e amplamente ignoradas (porque são caras). Aí é que entra Christine Ocampos, inventora do dispositivo de teletransporte Star Shot. Sua grande ideia: ela viajará para novos mundos, se envolverá intimamente com alienígenas locais e filmará suas façanhas para uma população de terra cansada tentando encontrar algo novo na internet. Agora, Chris e sua alegre turma de cientistas-estrelas pornôs exploram o universo, um ao outro e as complexidades do sexo em Money Shot. Uma história sobre cientistas fazendo sexo com alienígenas para o divertimento da humanidade – e por dinheiro.

FOLKLORDS

As barreiras entre o real e o fantástico se confundem neste quadrinho da BOOM! Studios lançado em 2019 por Matt Kindt (Grass KingsDivinity) e o aclamado artista Matt Smith (Hellboy e o BPRD). O protagonista Ansel parte em busca dos lendários Folklords saindo de sua terra natal fantástica. Uma busca proibida e que pode definir sua persona para sempre a medida em que Ansel descobre suas verdadeiras origens e a relação entre o mundo real e a fantasia. Folklords é como um Historia sem fim reverso. Um conto extremamente bem executado sobre descobertas na juventude, crescimento e cruzar fronteiras entre fantasia e realidade.

TOMMY GUN WIZARDS

Rebatizado recentemente de Machine Gun Wizards, este quadrinho de Christian Ward, artista do aclamado épico sci-fi Invisible Kingdom de G.Willow Wilson, e desenhado por Sami Kivela (Abbott), funde dois gêneros com perfeição: crime noir e fantasia. Eliot Ness e sua equipe de Intocáveis ​​trabalham muitas horas extras enfrentando criminosos perigosos que se escondem no submundo da máfia da década de 1930, em Chicago. Exceto que neste mundo Al Capone não está lidando com álcool, mas com magia. Com Lick, uma droga que concede poderes mágicos a qualquer um que a ingere, os mafiosos se tornam magos, os homens comuns se tornam monstros e segredos mais obscuros do que Ness pode imaginar no coração de tudo isso.

INVISIBLE KINGDOM

Um dos gibis mais aguardados do selo Berger Books de Karen Berger pela Dark Horse era Invisible Kingdom de G. Willow Wilson (Ms. MarvelMulher Maravilha) e Christian Ward (Raio NegroODY-C). O quadrinho sci-fi com temática religiosa e política estreou no primeiro semestre do ano passado e não decepcionou. O que aconteceria se a maior megacorporação da galáxia se aliasse à religião mais popular do universo? Ambientada em um sistema estelar distante, a saga de ficção científica conta a história de duas mulheres – uma jovem acólita religiosa e uma piloto de cargueiro – que separadamente descobrem uma vasta conspiração entre o líder do sistema, a religião dominante e a megacorporação que controla esta sociedade. Na fuga de represálias de ambos os lados, esse par improvável de rebeldes corre o risco de mergulhar o mundo na anarquia se revelarem a cruel verdade. Com temas religiosos muito bem trabalhados, analogias políticas e sociais transpostas para o ambiente de ficção cósmica e uma arte psicodélica na medida certa, Invisible Kingdom mostra toda a versatilidade de Willow Wilson como autora e o talento e imaginação visual de Ward em contextos fantásticos.

DEAD EYES

Originalmente chamada de Dead Rabbit a nova série de crime da Image teve de mudar de título por conta de direitos autorais. Na década de 1990, Dead Eyes era um homem prolífico e trapaceiro em Boston, até conseguir um último grande resultado de um golpe e desaparecer. Ninguém nunca descobriu a verdade. Ele se aposentou para ficar com o amor de sua vida, mas agora ele está de volta a máscara para salvar seu amor. De John McCrea, o artista e co-criador de Mythic e Hitman, e Gerry Duggan, escritor de Analog e Deadpool, ação, comédia, crime e o drama de Martin Dobbs, também conhecido como Dead Eyes. A história de um autêntico perdedor que se tornou uma lenda do crime e agora depois de velho deve viver sob as consequências de seu passado para sempre.

ONCE AND FUTURE

Excelente minissérie em seis partes de Kieron Gillen (Journey into MysteryWicked + Divine) e Dan Mora (Power Rangers) pela BOOM! que explora muito do contexto político atual do Reino Unido de forma ácida, porém leve, movimentada e divertida. Quando um grupo de nacionalistas usa um artefato antigo para trazer um vilão das lendas arturianas de volta dos mortos para ganhar poder, Bridgette McGuire, ex-caçadora de monstros, escapa de sua casa de repouso para aposentados e chama seu desavisado neto Duncan, um curador de museu, para um mundo de magia e misticismo com o intuito derrotar uma ameaça lendária. O quadrinho explora os mistérios do passado, as complicadas verdades da história e o poder da família – especialmente se essa família tiver bunkers secretos de armas antigas e décadas de experiência em caçar os maiores monstros da história da Grã-Bretanha.

CRIMINAL

Logo no início de 2019 a Image Comics relançou uma das séries criminais em quadrinhos mais bem feitas das últimas décadas. Criminal é uma criação do aclamado Ed Brubaker (Capitão América) com Sean Phillips (Hellblazer, Batman, X-Men) e seu último volume é simplesmente a antologia criminal quintessencial do ano de 2019, quiçá desta década inteira. Cada edição de Criminal contém histórias curtas de crime e violência trágica da maneira elegante que só este time criativo consegue produzir. Realmente um quadrinho único. Criminal é tudo que Frank Miller quis um dia que sua Sin City fosse, mas nunca conseguiu fazê-lo desta maneira.

LITTLE BIRD

Little Bird é O quadrinho pós-apocalíptico de 2019 sem competição alguma. Um mundo pós-apocalíptico e pós-humano, onde a igreja assumiu o estado e governa o que resta da América com um punho fascista; a esperança está morta. Nesta nova América, o Novo Vaticano praticamente derrotou um bando de combatentes da pífia resistência (representada como descendentes pós-apocalípticos dos povos nativo americanos). Agora eles se preparam para uma última oposição no norte do Canadá. A série é povoada de temas horríveis e fascinantes como genes de reencarnação, uma praga varrendo a América, seres geneticamente modificados e um exército de clérigos horríveis em uma missão para purificar as Nações Unidas da América. Escrito pelo premiado cineasta Darcy Van Poelgeest, Little Bird marca a primeira incursão do escritor/produtor em quadrinhos. A arte de Ian Bertram consegue refletir toda a sensibilidade e o horror do roteiro de Darcy em uma das narrativas visuais mais impressionantes de 2019. Imerso em um futuro tecno-orgânico, Little Bird se destaca como uma forte reflexão sobre o poder da religião e da esperança.

PETER CANNON: THUNDERBOLT

Se Peter Canon: Thunderbolt fosse um quadrinho DC ou Marvel a quantidade de videos, artigos e podcasts a esta altura discutindo a proposta, formato, mensagens e referências dentro das 5 edições desta obra só se equipararia a coisas como Multiversity, Guerras Secretas ou alguma Crise. Peter Canon é um super-herói originário da Charlton Comics, tendo passado pela própria DC nos anos 1980 até cair na Dynamite nos anos 2000. Nesta mais recente imaginação do personagem, Kieron Gillen e o artista Caspar Wijngaard exploram o que é ser o dono de conhecimento e poder quase que ilimitado e quais as ameaças a este tipo de personagem que é praticamente invencível. O quadrinho é basicamente a melhor história do Ozymandias já escrita. E não protagonizada por Ozymandias. Com um roteiro inteligente que esbarra em diversos conceitos filosóficos sobre a natureza do poder, Canon em sua jornada nos convida (e convida a si mesmo) a sermos melhores do que já somos. Com a dose certa de metalinguagem e uma arte inventiva porém sóbria, Thunderbolt é um dos mais fortes candidatos ao melhor quadrinho de super-herói de 2019.


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