O Máscara na corrida presidencial em I pledge allegiance to the Mask

3.1

NOTA DO AUTOR

Imagine um político insignificante com ideias totalitárias e retrógradas que nunca conseguiu nada na vida por ser um verdadeiro incompetente. Agora imagine esse político encontrando um artefato ancestral que concede poder praticamente ilimitado e liberta todos os seus desejos mais loucos. Agora imagine esse político psicótico e descontrolado com essa quantidade de poder entrando na corrida presidencial estadunidense. Isto é basicamente a premissa de The Mask: I Pledge Allegiance to the Mask, minissérie em quatro partes publicada pela Dark Horse do fim de 2019 até o início de 2020 com roteiros de Christopher Cantwell e arte de Patric Reynolds.

Abner Mead é o protagonista da nova série que se passa mais de 20 anos após a primeira aparição do Máscara original, Stanley Ipkis, em Edge City. A série traz alguns personagens já conhecidos da mitologia da franquia em suas versões mais velhas. Agora a ex-namorada de Ipkis, Kathy Matthews, é a impiedosa prefeita da cidade. O detetive Mitch Kellaway que já estava afastado da polícia, retorna à atividade quando pessoas relacionadas a corrida presidencial começam a aparecer mortas com todo o expediente excêntrico típico do Máscara.

O roteiro de Cantwell inicialmente é um pouco hermético e acelerado para o leitor sem referência acompanhar. A Máscara aparece nas mãos de alguns outros personagens antes de chegar a Abner, mas a mecânica da chegada é um pouco confusa, apesar de bastante brutal. A partir da segunda edição as coisas ficam um pouco mais claras e finalmente esta nova versão do Máscara dá as caras. A interpretação de Cantwell é muito alinhada com o conceito original violento e debochado do personagem. Associado a isso, temos um usuário com ideias completamente loucas em relação aos problemas do país. O resultado é uma violenta corrida presidencial na qual O Máscara mata seus adversários com exceção da prefeita Matthews.

Os discursos elaborados por Cantwell para o personagem são um retrato exacerbado da opinião da extrema direita estadunidense. O autor escreve este Máscara como uma espécie de Steve Bannon usando metanfetamina. Todo o discurso do personagem é extremo e envolve violência, porém com uma tendência a pensamentos alinhados ao conservadorismo de direita e ao nacionalismo acentuado. O quadrinho é em sua essência um horror fantástico político, então as analogias a figuras públicas da vida real são inevitáveis. O ritmo da corrida presidencial no entanto é bastante acelerado e com algumas pequenas subtramas do elenco de coadjuvantes. Mas a graça da história mesmo é ver pouco a pouco a reação da opinião pública às atrocidades cometidas pelo protagonista.

A arte de Patric Reynolds se assemelha bastante a artistas com Michael Gaydos e Alex Maleev na caracterização e enquadramento. O quadrinho ganha um aspecto muito sujo e visceral com isso. As cenas de diálogo tem bastante personalidade, porém fica um pouco difícil identificar os personagens entre si. Se o elenco fosse um pouco maior ficaria impossível diferenciar os personagens pois a caracterização do artista dificulta um pouco o discernimento. Nas cenas de ação e violência extrema, no entanto, Reynolds brilha demais, dando vida e cores à criatividade doente de Cantwell e tornando O Máscara um personagem extremamente assustador.

A franquia do Máscara sempre prezou por duas coisas: humor exagerado e sem compromisso e violência extrema. Ao levar o personagem através de uma jornada política, Christopher Cantwell logicamente usa elementos da parte mais caricata e extrema do espectro. Em uma sociedade que se politizou e se polarizou bastante nos últimos anos, talvez a leitura não agrade a todos, mas para quem se diverte com sátiras exageradas dentro de um roteiro consistente e rápido o quadrinho pode sim agradar bastante.

 

  

Roteiro: Christopher Cantwell

Arte: Patric Reynolds

Editor: Daniel Chabon

Capa: Patric Reynolds e cores de Lee Loughridge

Publicação original: The Mask: I Pledge Allegiance to the Mask #1 a #4 (outubro de 2019 a janeiro de 2020)

No Brasil: inédito

Nota dos editores:  3.1


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