Hideki Mori foi o artista escolhido pelo próprio Kazuo Koike para ilustrar Novo Lobo Solitário, continuação direta do clássico mangá criado por Koike junto com o lendário Goseki Kojima. De fato, o traço de Mori é bem parecido com o de Kojima: uma arte dinâmica, rica em realismo mas sem deixar de ser estilizada. Voltado para esse estilo considerado mais adulto, Mori não se furta de mostrar violência da forma mais gráfica possível, além de criar cenas de ação e luta entre espadachins que não devem em nada ao celebre trabalho de Kojima. Ou seja, em termos de arte e narrativa, Hideki Mori é uma referência atual.
Em A Besta, Mori destrincha a vida do jovem Bennosuke, que viria a ficar mundialmente conhecido como Miyamoto Musashi. Bennosuke era seu nome na infância e a história mostra justamente a vida do famoso espadachim entre seus 13 e 16 anos de idade. Segundo posfácio do autor, sendo ele especialista em “histórias de época”, a vida de Musashi era algo que, cedo ou tarde seria contado por meio de um mangá. Cabia apenas pensar na abordagem, visto que há inúmeros filmes, livros e até mangás (como o famoso Vagabond) que tratam da vida de Musashi. Mori, então, decidiu-se por esses anos iniciais de sua formação, partindo do desentendimento com o pai e a morte da irmã mais velha, eventos que são catalisadores na formação da personalidade violenta e animalesca de Musashi (daí o título).
Ao longo de quatro capítulos, a história avança pela peregrinação sem rumo de Musashi. Ele não sabia aonde ir nem o que fazer de sua vida. Agricultor? Artesão? As possibilidades vão aparecendo e se esvaindo ao passo que a morte surge por meio de duelos sanguinários. Como indica a contracapa, A Besta é uma obra recomendada para maiores de 18 anos. Mori não faz cerimônia nas cenas de luta, com cabeças decepadas, sangue e mutilações. A violência é gráfica e o autor aproveita para demonstrar todo seu grande talento (a NewPOP colocou como anexo algumas páginas descartadas por Mori, com o próprio justificando o descarte. São desenhos belíssimos que fazem você pensar no que Mori considera como “descarte”). O sexo também se faz presente, com cenas explícitas, mostrando o crescimento do menino, que vai se tornando um rapaz muito bonito e alto para sua idade, chamando a atenção das mulheres.
Não vou discorrer sobre os erros de revisão, infelizmente tão comuns nos gibis da editora, que, em contrapartida, apresenta um trabalho gráfico de primeira com uma edição belíssima, extras interessantes e relevantes, a um preço muito justo (volume único com 264 páginas em preto e branco). No citado posfácio, Mori fala um pouco sobre sua decepção com o cancelamento de A Besta (um quinto capítulo não chegou a ser publicado). Uma pena. Trata-se de uma obra que merece ser lida e conhecida por todos, seja pela grande história (o autor amarra bem as passagens da vida de Musashi, com o quarto capítulo tendo todo um clímax maravilhoso em meio a famosa Batalha de Sekigahara, quando elementos fundamentais de sua vida são escancarados pelo autor), seja pela arte maravilhosa de Hideki Mori.
Roteiro: Hideki Mori
Arte: Hideki Mori
Editor:
Capa: Hideki Mori
Publicação original: Shishi (2014)
No Brasil: julho de 2020
Nota dos editores: 5.0