Sebo dos sonhos

Você tem o hábito de caçar livros e revistas em sebos? Confesso que há tempos eu não não visitava um sebo, coisa que fiz muitas vezes para completar minha coleção de quadrinhos.

Cabe uma explicação do que é um sebo para os leitores mais novos? Numa explicação rápida, sebo é uma Estante Virtual unplugged, um ecossistema onde livros e revistas usados convivem lado a lado com gerentes inescrupulosos e poeira. Muita poeira.

Por conta das diversas republicações de quadrinhos, concentro minhas buscas em sebos principalmente por livros. Claro que o componente saudosista fala mais alto quando encontro uma Heróis em Ação ou Superamigos. Mas a restrição de espaço e as diversas mudanças falam mais alto que a nostalgia, e eu abandono aquela saudosa edição de Superaventuras Marvel.

Mas, e se num dia desses eu entrar em uma versão sebosa da Biblioteca do Sonhar, um sebo dos sonhos, recheado de edições especiais que nunca foram e jamais serão publicadas ou republicadas dessa ou de nenhuma outra forma?

Quais são os 5 títulos que eu sonharia encontrar no melhor sebo do mundo? Quais edições feitas sob medida para derreter a pedra de gelo dentro desse peito? Possível ou impossível, sem ordem ou prioridade, apenas um devaneio de um leitor das antigas.

Vamos lá:

ESQUADRÃO ATARI – sim, começaria por aí. Esquadrão Atari saiu inicialmente em Heróis em Ação, da Editora Abril. Mas só foi chamar a minha atenção em Superamigos #3 (1984), onde o teleportador Tormenta lutava contra o poderoso Destruidor Negro na capa da revista.

O Esquadrão Atari foi uma iniciativa promocional da empresa de videogames homônima, uma space opera fantástica, recheada de criaturas fantásticas como o gigante Bebê e a intrigante Morféa. Inicialmente era só um comic promocional, que era encartado junto com alguns cartuchos de jogos da época.

O Esquadrão Atari (sendo que Atari era A.T.A.R.I. Advanced Technology And Research Institute) era formado por um grupo de descendentes superpoderosos de exploradores do Multiverso, junto com esses alienígenas fantásticos que encontravam pelo caminho. O vilão era o já citado Destruidor, um Darth Vader desse Multiverso ficcional, magnificamente desenhado pelo mestre das tampas de margarina (outra revelação de idade, me desculpe) José Luis García-López.

Como há indícios que Esquadrão Atari será publicado pela IDW, eu quis começar fácil. A versão original teve 20 edições, cabe direitinho num encadernado caprichado.

 

ROM – já estou dificultando um pouco. ROM está saindo pelo BOOM! Studios, e o anúncio dessa publicação foi comemorado no melhor estilo final da Batalha de Endor, só não teve churrasco de Stormtrooper. Infelizmente, não foram as histórias originais do Cavaleiro do Espaço, o nobre alienígena de Galador que cedeu parte de sua humanidade para lutar contra os Espectros.

ROM é outra franquia que usou os quadrinhos para promover seu brinquedo nos anos 80. Mas o Cavaleiro do Espaço foi muito além do mero robozinho de plástico: as histórias de ROM envolviam todo o Universo Marvel, tornando a invasão alienígena dos Espectros realmente ameaçadores. Todo o charme da série está nesses crossovers entre personagens, de X-Men a Galactus (pra mim, o ponto alto da série. Rom e outros Cavaleiros do Espaço conduzem o Devorador de Mundos para consumir o Mundo dos Espectros).

Gostaria de revisitar essas histórias, que saíam junto do formatinho do Incrível Hulk, da editora Abril. Acho difícil, mas fica a torcida.

 

OMEGA MEN (1986) – Omega Men foi anunciado numa seção de cartas, um pouco antes da publicação de Crise nas Infinitas Terras. O grupo de terroristas do sistema Vega já tinha aparecido numa história do Lanterna Verde e dos Novos Titãs, e foi o suficiente para me cativar.

O que poucos sabem é que Omega Men foi uma ousada iniciativa da DC Comics nos anos 80. A série de 1983 foi fruto de uma pesquisa em títulos regulares capitaneados por Marv Wolfman, para avaliar a reação dos fãs antes que o DC revelasse corajosamente o formato de prestígio. Esse fazia parte do projeto piloto da DC para publicar livros de luxo – impressão offset e papel de qualidade superior. Outra característica é que a série não tinha nenhum selo do Comics Code Authority – a DC poderia imprimir todo o gore, linguagem suja e material sexualmente explícito que quisesse.

As seis primeiras edições são um petardo, diferente de tudo que estava sendo lançado na época, com arte de Keith Giffen,  com o seu traço bem parecido com a consagrada Saga das Trevas Eternas, um dos melhores momentos da Legião dos Super Heróis.

Cabe aqui dizer que foi em Omega Men #3 que surgiu o personagem Lobo, bem diferente da sua versão atual – tanto o metaleiro do espaço quanto a versão que surgiu durante os Novos 52.

Chances disso sair aqui? Bem difícil, eu diria. Isso não foi encadernado nem nos EUA.

Só na Biblioteca Sebo do Sonhar.

MICRONAUTAS – outra franquia de brinquedos usando a plataforma dos quadrinhos para se promover. Só fiquei sabendo disso anos depois: os Micronautas eram um brinquedo da Mego, bem feinho por sinal. Recentemente, os direitos dos personagens foram comprados pela Hasbro.

A trama era sensacional: um grupo de aventureiros de um universo subatômico foge para nossa realidade, mas continua num tamanho diminuto. Robôs, alienígenas em armaduras tecnológicas, heróis e vilões que se tornavam Centauros cibernéticos, um pai e um filho humano para gerar identificação… Micronautas bem que poderia estar na Sessão da Tarde dos idos oitentistas, mas era um tapa-buraco de qualidade da saudosa Heróis da TV.

Bill Mantlo e Michael Golden eram responsáveis por essa HQ simpática, tendo sua primeira (e melhor) fase 59 edições, entre 1979 e 1984.

Esse é outro título com problema de licenciamento, dificilmente terá uma republicação. Já houve algumas tentativas de ressuscitar a franquia, mas não tem o mesmo entusiasmo juvenil da versão original.

CREPÚSCULO DOS SUPER-HERÓIS – esse sim é o Santo Graal das coisa impossíveis. Até porque nunca foi publicado. E, se depender do Mago de Northampton, nunca será.

Imagine O Reino do Amanhã (Kingdom Come) escrito por Alan Moore. Isso é uma boa forma de descrever o plot de O Crepúsculo dos Super-Heróis, um texto que rodou antigamente na internet sobre um possível réquiem dos heróis da DC Comics, pelas mãos de Alan Moore.

Depois do sucesso da Saga do Monstro de Pântano e Watchmen e antes da sua briga com a DC (ainda nos anos 80), Alan Moore submeteu uma proposta para uma série que mergulharia o universo DC no Ragnarok, Goetterdammerung, o Crepúsculo dos Deuses, e que nunca foi trazido à realidade.

Assim como em Reino do Amanhã, os heróis em vilões estão divididos em Casas. Temos a Casa do Trovão e a Casa do Aço (respectivos domínios de Shazam e Superman) e outras casa menores, formadas por super-humanos, alienígenas e criaturas místicas. Para ver uma descrição completa dessa premissa, clique aqui.

Este documento apareceu, mais tarde, em um fanzine de ficção científica anônimo e foi transferido à rede por fãs também anônimos. Alguns erros óbvios do texto a seguir foram corrigidos pelo site que o divulgou, e traduzido por mim. Originalmente havia algumas dúvidas sobre sua validade. Quer dizer, era realmente uma proposta de Alan Moore, ou uma brincadeira bem-escrita?

Até hoje, não foi confirmada a veracidade dessa premissa supostamente criada pelo autor de Watchmen, mostrando um futuro com heróis decadentes, tendo John Constantine como um Virgílio moderno, guiando o leitor pela última história do Universo DC.

E duvido que esse roteiro venha a ver a luz do dia. Acho bem difícil até que seja confirmado ou negado por Alan Moore. É público e notório que o autor não simpatiza mais com a indústria de quadrinhos norte-americana, à qual odeia com todas as forças que Glycon lhe concede, principalmente a DC Entertaiment.

Mas como estamos falando de um Sebo do Sonhar, gerenciado por um simpático e honesto senhor chamado Lucien, tendo um ajudante cabeça de abóbora para auxiliar na sua busca, quem sabe?

Sonhar não custa nada.

 

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