Letícia Godoy/MIS
Aproveitei a viagem à CCXP 2018 (aliás, você já ouviu nosso Pilha de Gibis especial direto do Artist’s Alley? Ouça AQUI) para visitar a exposição “Quadrinhos”, que está no MIS – Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, desde o dia 14 de novembro e vai até o dia 31 de março de 2019.
Fui numa terça-feira, dia de gratuidade no Museu, por isso esperava que o espaço estivesse bem cheio. Cheguei por volta das 11h e, pra minha surpresa, o local não estava lotado, apesar de ter uma excursão de colégio na hora que cheguei. Peguei meu ingresso e fui pra fila. Nesse momento, senti uma certa desorganização por parte do pessoal do MIS, que ficava nos mudando de fila. Meu ingresso era o das 11h, mas só consegui entrar na exposição às 11:40h. Depois de uma rápida explicação de como funcionava a exposição, além dos avisos de praxe de não tirar fotos com flash e também não tocar nos objetos (além dos que eram interativos), lá fui eu por uma viagem pela história da nona arte.
A visita começa pelo segundo andar do museu, mas já nas escadas tem material pra ver. Com uma exposição imersiva, cada ambiente está preparado e decorado pro tema exposto ali. O passeio começa pelas tiras de jornal, que foi basicamente onde surgiu essa mídia. Várias tirinhas expostas, como num catavento, convidam o visitante a passar uns bons minutos lendo e se divertindo com alguns clássicos desse meio, como Peanuts e Hagar. Em seguida temos o salão de quadrinhos europeus. Lucky Luke, Spirou, Tintim e tantos outros dominam o ambiente. Entre os originais e raridades expostos, destaque pra Tex #01, de fevereiro de 1971, da Editora Vecchi. O gibi do ranger mais famoso do mundo é publicado desde então, com numeração sequencial, mesmo mudando duas vezes de editora. Tem original também de Lucky Luke, primeira publicação de Corto Maltese, do Hugo Pratt, na revista Sgt. Kirk #01, de julho de 1967, um exemplar da revista Charlie Hebdo #1178, de janeiro de 2015, publicada imediatamente após o atentado à redação da publicação, que deixou 12 mortos, além de diversos sketches, litografias e exemplares autografados por alguns dos gênios do quadrinho europeu.
Na sequência, temos uma sala dedicada aos quadrinhos japoneses, os mangás, que aparentemente era uma das salas de maior sucesso com a garotada da escola que estava visitando o museu no mesmo dia. Além de exemplares nacionais de alguns dos mangás de maior sucesso comercial aqui no Brasil, como Dragon Ball e Naruto, algumas TVs exibiam episódios de animes. Alguns dos destaques dessa parte da exposição são uma moto do Kaneda, de Akira, que atualmente está sendo republicado pela Editora JBC, onde os visitantes podem tirar uma foto nela, e um exemplar americano de Lone Wolf and Cub, o Lobo Solitário, autografado por Frank Miller, o autor da capa da edição americana.
Logo em seguida temos uma das sacadas mais inteligentes da exposição: a sessão de quadrinhos eróticos. Ela foi montada dentro de um dos banheiros do museu e um dos funcionários fica na porta, pois nessa parte só pode entrar maiores de 18 anos. Alguns dos mestres desse gênero estão representados ali, como Guido Crepax e sua Valentina, Milo Manara e suas mulheres belíssimas e Paolo Eleuteri Sarpieri e sua Druuna. Apesar de não se tratar de um quadrinho erótico, a Rê Bordosa não poderia faltar, e na sua banheira, é claro, além de alguns exemplares dos catecismos de Carlos Zéfiro.
Após essas exposições, temos finalmente a sala do mais bem-sucedido quadrinista brasileiro de todos os tempos: Maurício de Sousa. A sala mostra um pouco de sua trajetória e expõe o primeiro exemplar de cada gibi da turminha, indo desde Mônica e sua Turma #01, de maio de 1970, passando por Cebolinha #01, de janeiro de 1973, Cascão #01 e Chico Bento #01, ambas de agosto de 1982 e Magali #01, de fevereiro de 1989. A exposição traz ainda o Almanaque de Zaz Traz, do final de 1960, onde foram publicadas as primeiras HQs do Maurício de Sousa, que havia sido publicado apenas em tiras de jornal até então. Alguns dos originais da mais recente iniciativa do artista, as Graphic MSP também estão expostas. Além desses originais, o destaque da sala é mostrar como é a concepção de uma história da turminha, indo desde o rabisco inicial do roteiro, passando pelo lápis já no clássico traço da turminha, arte-final, colorização e a página pronta e impressa na revista.
Em seguida mergulhamos de vez nos quadrinhos nacionais. Temos uma sala toda dedicada a Ziraldo, com uma impressionante projeção em vídeo do autor, além de muito material original do artista. Alguns dos personagens brasileiros clássico tem vez aqui, como o Amigo da Onça e muitos outros. Laerte, Glauco e Angeli são os destaques de uma instalação impressionante dedicada ao Brasil nas últimas décadas. Reproduções de tiras e material original, além de muito material audiovisual. A atual geração de quadrinistas está muito bem representada por originais de Danilo Beyruth, Germana Viana, Vitor Cafaggi e tantos outros.
Em seguida, temos a sessão de artistas latino-americanos. É a vez de admirarmos o trabalho Quino, Salvador Sanz, Liniers e muitos outros. Exemplares de Mafalda, Condorito, além de vários desenhos originais mostram a produção dos artistas latinos e a importância deles pros quadrinhos mundiais.
Já estamos na última parte da exposição quando finalmente chegamos na área mais esperada por fãs dos comics: a área dos quadrinhos americanos. Entre originais, sketches e revistas autografadas, podemos passar algumas horas ali admirando cada item do acervo. Uma litogravura de Watchmen autografada por Alan Moore, Dave Gibbons e John Higgins chama a atenção logo no começo dessa parte da exposição, bem como um exemplar original de Seduction of the Innocent, de Fredric Wertham, livro que quase destruiu a indústria dos quadrinhos na década de 1950. Edições importantes e desenhos originais de Hellboy, Conan, Spirit, entre outros, fazem a alegria de qualquer fã de quadrinhos.
Ainda nessa parte de quadrinhos americanos, temos salas totalmente dedicadas à DC, à Marvel e à Disney. Na primeira, montada como uma belíssima bat-caverna, com direito ao uniforme do Robin e um bat-computador, temos uma republicação de 1993 de Action Comics #01, autografada por Jerry Siegel. A mais recente encarnação da revista Superman também está presente, com seu exemplar número um autografada por Ivan Reis e Brian Michael Bendis. Páginas originais e desenhos exclusivos fazem parte dessa exposição. Nessa sala ainda pude encontrar com o Ivan Freitas da Costa, um dos sócios da Chiaroscuro e da CCXP, além de curador dessa exposição. A maior parte do material original da exposição faz parte do seu acervo pessoal. A sala da Marvel não deixa nada a dever no aspecto do acerto, com muito material original e autografado. Destaque para uma carta manuscrita de Steve Ditko, onde ele responde um fã brasileiro e Giant-Size X-Men #01, onde surgem os Novos X-Men e Wolverine #01. Na parte da Disney, alguns originais de desenhistas brasileiros que trabalharam nas revistas, além de um exemplar de Pato Donald #01, de julho de 1950, revista que foi a primeira publicação da Editora Abril, que passa por uma crise sem precedentes, com pedido de recuperação judicial correndo na justiça, além de débitos com os profissionais dispensados.
E além da exposição, durante todo o mês de janeiro o MIS estará ofertando vários cursos de curta duração relacionados aos quadrinhos, a partir de R$ 80,00. São eles: Criação de personagens, Folclore e identidade nos quadrinhos, História em quadrinhos: gênero e representação, A história do século XX pela perspectiva, A sua história em quadrinhos e Literatura, HQ e a complexidade humana: diálogos possíveis. Para mais informações sobre os cursos, acesse a página do MIS
Letícia Godoy/MIS
E assim se encerra o passeio ao MIS. Nos dias normais, o ingresso custa R$ 14,00 a inteira e R$ 7,00 a meia. O acesso ao museu é bem tranquilo. Fica a 15 minutos de caminhada da estação Fradique Coutinho da linha amarela do metrô e é um excelente programa para levar crianças, sejam os seus filhos ou sua criança interior, que adora essa indústria e tudo que é relacionado a ela. Todas aquelas edições importantes, sejam autografadas ou não, e originais fazem dessa exposição uma visita imperdível para quem mora em São Paulo e região e, também, pra quem vá visitar a cidade durante o período de exposição.
Um comentário sobre “Quadrinhos é coisa de museu”