IRON HEART #11
Tem uma sensação esquisita e divertida, que muito provavelmente não agrade aos leitores de hoje em dia. Era algo comum pra quem cresceu lendo gibis nos anos 1980. Pegar uma história, no meio de um arco, sem saber nem como começou e tentar entender enquanto lê, sem compromisso algum além da diversão em si. Especificamente com essa edição da mensal da Riri Williams, a sensação foi a mesma dos velhos tempos. Uma prova de que o gibi está sendo bem escrito, afinal, mesmo sem saber tudo, deu pra entender muito, sem comprometer a história individualmente.
A Moça de Ferro está diante de dois problemas, um muito pessoal, envolvendo alguém que pode ser um ente querido que todos acreditavam ter morrido há anos e outro mais super-heroico mesmo, com um grupo de supervilões buscando poder, sendo que as duas situações estão interligadas. Some-se a isso algo que merecia ter mais longevidade, a super equipe não-oficial formada pela própria Riri, Silhoutte (dos tempos dos Novos Guerreiros), Shuri (ex-Pantera Negra) e Okoye, militar casca-grossa de Wakanda. Uma boa surpresa ver que esse gibi está funcionando, o que torna ainda mais triste o fato de que essa é a penúltima edição, já que a Marvel anunciou seu cancelamento no décimo segundo número. A roteirista Eve Ewing demonstra ter um domínio muito bom dos elementos humanos/emocionais, assim como das convenções da ação super-heroica. A arte de Luciano Vecchio é promissora, com alguns bons momentos. Agora bateu a vontade de pegar desde a primeira edição e ler a série toda.
NIGHTWING ANNUAL #2
Quem diria que em 2019 veríamos um gibi de super-heróis mainstream inteiro que mais parece um filme para TV norte-americana, um daqueles dramas médicos que vez por outra passam na Sessão da Tarde ou no Supercine. (Supercine ainda existe, falando nisso?) Mas, enfim. Se você não gosta de muito texto, de diálogos, de interações, evite esse anual do Asa Noturna. Mas se você gosta e se importa com os personagens da bat-família e tem acompanhado os acontecimentos envolvendo a escalada na guerra entre Batman e Bane na mensal escrita por Tom King, vale a leitura. O ponto mais inesperado talvez seja a escolha pra roteirista dessa edição especial. Dan Jurgens. Um camarada que, na melhor das hipóteses, é um bom operário, que cumpre prazos e que escreve aventuras razoáveis, mas que não tem a sutileza ou a sensibilidade necessárias para uma história dramática como essa em questão. Ainda assim, Jurgens não faz feio, vai lá e conta bem o drama vivido por Dick Grayson, Bruce Wayne, Damian, Bárbara Gordon e Alfred. Nada de memorável nesse aspecto, mas a subtrama que revela o envolvimento de um certo grupo de vilões e toda uma conspiração (forçadíssima) envolvendo a família Grayson, o passado e o futuro do Asa Noturna, rompe por um momento com o roteiro morno, criando uma certa curiosidade. Nota: 2 morcegos e meio.
SAVAGE AVENGERS ANNUAL #1
Frases de efeito, pancadaria, sangue, honra entre assassinos, mutilações, anti-heroísmo e, mas que surpresa, gente mau humorada. Tu gosta disso? Tu sente saudade dos tempos em que a Marvel descobriu um nicho bem lucrativo com Wolverine e Justiceiro nos anos 1980? Pronto, leia esse gibi FEIO, FORTE E FORMAL. Foi feito pra você por Gerry Duggan e Ron Garney, com carinho, digo, com ódio e ranger de dentes.
BATMAN & THE OUTSIDERS ANNUAL #1
O roteirista Bryan Hill ainda não conseguiu ir além do mediano nessa versão atual de Batman & Os Renegados, apenas vai lá e se esforça pra terminar cada edição, como é o caso desse anual focado em Katana, com Raio Negro de coadjuvante. O material tem potencial, só que em momento algum vemos criatividade ou capricho narrativo, é bem raso. Pra completar, a arte é daquelas em que o artista parece ter futuro, pode ser que desponte um dia, mas nesse momento é apenas um genérico daquele desenhista lá, o como é o nome mesmo, lembra aí, ô… Esquecível e só.
EXCALIBUR #1
Olha, vá ler Strikeforce. Sério, a roteirista Tini Howard tá fazendo um trabalho honesto por lá. Esse Excalibur dela começou errado todo.
WONDER WOMAN ANNUAL #1
Misericórdia. Que mundo louco é esse em que estamos vivendo? STEVE ORLANDO ESCREVEU UM GIBI BOM. A arte, por outro lado, é ruim. Mas, ei, é sério, o cara que obrou a medonha Liga da Justiça do Tarzan criado por galinhassauros se redimiu. Fez uma boa história. E o fato de ter um tie-in com Evento Leviatã ajudou, pela revelação no final. O que falta agora, Chuck Austen voltar e ganhar um Eisner?
BATMAN ANNUAL #4
Tom King mostra, nesse anual, o motivo de ter recebido elogios e de ter levado tanta pedrada desde que assumiu a mensal do Morcego. Mas é algo altamente adequado, já que ele mesmo anunciou que essa história é sua “última palavra” sobre o Batman, mesmo ainda tendo umas edições para acabar na mensal e com a vindoura Batman/Catwoman prevista pra 2020. Faz sentido, já que ele optou por contar, praticamente, todas as histórias possíveis que Batman pode ter. Aí temos uma representação perfeita do que foi e é a fase King com o Cavaleiro das Trevas. Ele entende e realmente ama o personagem, tem grandes aspirações enquanto roteirista, não se conforma em apenas contar uma história, mas em tentar sem descanso explorar possibilidades narrativas, mesmo errando muitas vezes.
Tom King tem metas, quer ser um roteirista virtuose, quer alcançar o mesmo nível de seus ídolos do meio, o que é admirável, mas com isso se tornou presunçoso e pretensioso, acabou perdendo oportunidades ao colocar seu ego à frente e acima do trabalho, que é contar histórias.
“Mas e o anual, presta?”
Sim. Alguém que pegue e leia sem o contexto da fase King, vai gostar mais do que alguém que esteja acompanhando a mensal e acumulando elogios e críticas ao roteirista. A história, em si, é muito boa. A arte, linda. Mas a sombra criada pelo próprio Tom King, aos olhos de quem já a conhece, certamente vai deixar turva a visão do leitor. Uma pena. Poderia ter sido uma passagem memorável, se a sombra dominando as histórias fosse apenas a do Morcego.
Acabei de Ler é apenas uma amostra rápida do que li. Os melhores lançamentos da quarta-feira, você já sabe, podem ser conferidos no Gibis da Semana.