Chega de Steve Orlando!

Não me peça para ler mais nada escrito por Steve Orlando. Eu desisto. O bom de ir ficando velho é que você, finalmente, consegue simplesmente largar no meio. Comecei, achei ruim, não, não vou terminar isso. E vem piorando: não estou mais apenas largando uma série em 12 partes (para quê, meu Deus…) na edição sete; agora, eu largo é na página 12 de 20 da primeira edição. Sem medo de ser feliz, porque a vida é curta e hoje temos acesso aos mais variados gibis de todas as partes do mundo. É muita coisa diferente – e boa – para eu ler outro gibi ruim da Liga da Justiça. Ou uma maxissérie em 12 partes (Jesus amado…!) do Caçador de Marte.

Não pretendo fazer um levantamento extenso da ainda curta (oremos) bibliografia do Orlando. (Lembre-se do assunto principal: a vida é curta até mesmo para ir ao Google.) Para mim, esse cidadão surgiu numa série do Meia-Noite, o Batman da Wildstorm casado com o Super-Homem da Wildstorm, muito bem desenvolvido por seu criador, Warren Ellis, no clássico The Authority. Essa mensal do Meia-Noite é de antes do Renascimento DC, na fase chamada DC You, o único momento de alguma criatividade dentro dos Novos 52. Ao lado de Grayson, que alavancou a carreira de Tom King, Meia-Noite causou burburinho nas redes, em especial pelos desenhos modernos do(a) ACO. Coisa linda a arte. O gibi, por sua vez, veja bem… É o Batman ultraviolento, ultraforte, ultrassádico. Não tem como dar errado. E de fato, não deu. Porém, passado o momento, cabeça mais fria, você percebe que essa série é boa e só, muito porque era difícil errar mão com um conceito desses e uma arte maravilhosa (ainda que tenha uma interligação irritante com Grayson). De toda forma, Orlando teve seu nome comentado e vôos maiores viriam. E vieram.

No Renascimento, Tom King parou seu badalado run no Batman bem no início para que Orlando criasse uma saga envolvendo todas as revistas do Morcego, a chatíssima “Noite dos Homens-Monstro”. Deus me perdoe, mas que troço horroroso! É uma bobagem sem pé nem cabeça, envolvendo alguma praga que transforma as pessoas em… monstros! Nem vou entrar em pormenores do plot, se é batido ou não, se cabia ou não naquele momento. Esqueça isso. A história é ruim que dói. Ofensivamente ruim e, Deus me perdoe, desnecessária. Nesse momento ficou claro quem era Steve Orlando. O cara que fez um gibi qualquer do Batman violento não soube fazer uma história… do Batman. Uma confusão, argumento raso, acontecimento bobo, pense num troço chato.

Você bem sabe, chapéu de otário é marreta e lá fui eu acompanhar a maxissérie em 12 partes responsável por encaixar o Ajax nessa nova continuidade da DC Comics. O Ajax você sabe: é o Superman ultraforte e verde, com mais poderes que qualquer outro herói. Quase ilimitado e que morre de medo do fogo. É marciano também, quando nem terraformar o planeta vermelho queremos mais. (Aliás, Perdido em Marte enterrou de vez nossa tara no planeta vizinho.) E estava limpo, porque você poderia fazer o que bem entendesse, posto que ele seria reintroduzido. De utilizar conceitos e ideias antigas a mudar tudo e começar do zero, estava valendo. Bem, Steve Orlando tentou. Tentou usar a origem antiga, o lado detetive, o medo do fogo, um estranho numa terra estranha, marcianos loucaços por telepatia… Ele tentou de tudo mesmo. E falhou em tudo, como era de se esperar. Aqui faço um mea culpa: eu parei a maxissérie na edição cinco, não chegando nem na metade.

Primeiro porque, de novo, a vida é curta e maxissérie em doze partes é desperdício de papel. Na primeira edição ficou claro que ele resolvia aquilo tudo em no máximo quatro partes, cinco para ter aquela barriga nossa de cada dia. Segundo porque rapidamente ficou um negócio cansativo e besta em demasia, com uma massa de texto enorme e chatíssima de se ler, diálogos enfadonhos e uma trama que cansou num instante. Não quis pagar para ver as outras sete edições. Em resumo, é isso: o cara teve ótimas oportunidades para se mostrar, com personagens relativamente fáceis e muito liberdade. Estragou tudo com tramas ridículas e os diálogos mais cansativos que você lerá na sua vida, caso não acredite em mim.

Eu não quis saber de Supergirl ou da Liga da Justiça dele. Aliás, vale dizer que ele “perdeu” a Liga para Scott Snyder. Onde está seu Deus agora? Steve Orlando, eu não te odeio. Mas, por favor, vá para a Marvel. Grato.


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