Você ainda lembra de Doomsday Clock? E de Heroes in Crisis? Da primeira, uma maxissérie em 12 edições, falamos de tudo que foi possível. Da segunda, também uma maxissérie, mas em 9 partes, não gastamos muita saliva. E ambas tinham grandes nomes por trás: Doomsday Clock veio ao mundo pela dupla Geoff Johns e Gary Frank; Heroes in Crisis foi criada por Tom King, já famoso e bem consagrado, e teve desenhos principalmente do Clay Mann, que pode não ser (ainda) dos mais famosos, mas é um grande artista. Nesse quesito, aliás, as duas maxisséries se saíram muito bem: desenhos maravilhosos, como não poderia deixar de ser. A primeira teve atraso grande, porém a qualidade da arte não caiu. São, de fato, dois grandes artistas.
Negócio que Doomsday Clock veio com muita propaganda: o objetivo era integrar Watchmen ao universo regular da DC Comics. Veríamos, enfim, o encontro entre os dois seres mais poderosos do universo: Doutor Manhattan x Superman. Queríamos isso? Talvez. Precisávamos? Provavelmente não. E dessa forma tudo seria Universo DC, todo mundo junto no mesmo balaio, no “mesmo” multiverso, mas disponíveis a encontros, sagas e o que mais aparecer. Problema é que quase dois anos depois, a maxissérie chegou ao fim, essa junção dos dois universos foi muito capenga, Johns perguntou mais do que respondeu e agora eu não faço ideia de como isso ficou ou do que vem pela frente. Heroes in Crisis, por sua vez, resolveu retconear tudo e afirmar que existia um Santuário, local onde os heróis iam lá desabafar, afinal estão no emprego mais perigoso do mundo. Uma espécie de analista para supers. Para apimentar ainda mais, uma morte chocante de um personagem querido, é claro. No fim das contas, a única coisa que lembro é da Arlequina dando uma surra na Trindade! Isso não é nem forçado: é patético mesmo.
O ponto em comum entra ambas é o fato, cristalino, de que foram séries longas demais. No caso de Heroes in Crisis, temos uma história que se resolveria fácil num especial de 58 páginas. A ideia de manter os leitores presos mês a mês não funcionou, pois Doomsday Clock lá pelas tantas virou bimestral, diante dos atrasos de Gary Frank. Para quê tudo isso, então? Primeiro, dois encadernados com seis edições cada. Depois uma edição de luxo juntando tudo. OK, faz parte do jogo mercadológico. Porém, pelo menos se esforcem e me entreguem uma história que valha à pena seguir – e nem quero que ela faça diferença na cronologia, que mude tudo daqui por diante. Nem preciso mais disso a essa altura da vida. Mas se for o caso, faça bem feito. Ficou claro que faltou planejamento aí, porque os atrasos fizeram com que Doomsday Clock simplesmente perdesse o bonde da história e fosse atropelada pelas mensais do Renascimento DC.
O fato é que estamos nos afastando cada vez mais das histórias de heróis não porque estamos ficando velhos, Magneto. Mas porque tem muita porcaria ganhando destaque, salvo raríssimas exceções. E sendo fã da DC desde sempre, admito sem dor no coração: as exceções estão na Marvel, como no Thor do Donny Cates ou no Imortal Hulk do Al Ewing (que oscila bastante) – isso para não citar outros escritores e desenhistas que estão sempre voando abaixo do radar enquanto ficamos falando, de novo, de Johns, King, Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Frank Miller, Jeff Lemire…
Então respondendo a pergunta acima, o problema não é nem de longe a quantidade de lançamentos. Porque tem coisa boa saindo, aqui e acolá. Acontece que esses gibis de qualidade ficam submerso na maré dos grandes títulos e autores, quando não tem arcos interrompidos porque saiu mais uma saga que envolverá todos os títulos (e tem muita gente se saindo muito bem até nessas situações, que existem desde sempre e não é o problema principal). Ficamos falando sobre 85 edições das estripulias que aconteciam em Batman, enquanto Detective Comics entregava boas histórias mês a mês. Action Comics e Superman igualmente estavam indo bem, mas só passaram a ser comentadas com a chegada do Bendis. A longa fase do Aaron no Thor acabou tem um tempo, mas parece que não existe mais nada do personagem. Guardiões da Galáxia acabou de ter publicado no Brasil dois ótimos encadernados, mas parece que só existem os filmes e a fase do citado Bendis.
A indústria mira nesses autores consolidados e deixa de lado autores que fazem boas mensais – que, no fim das contas, é o que ainda sustenta essa mesma indústria. Não sou contra inventar moda, mudar status quo e coisas do tipo, desde que seja bem feito, obviamente. De que adiantou o Bendis mexer mais uma vez na origem do Superman? Nem lembramos mais disso. E sabe por quê? Porque era uma história para lá de comum que foi muito requentada para ganhar uma embalagem de algo grande. E as coisas comuns, bem feitinhas, seguem relegadas num canto qualquer.