Guarda Lunar

5.0

NOTA DO AUTOR

Me apaixonei não pela pessoa errada, mas por Tom Gauld, vendo seus cartuns e tiras numa revista Piauí da vida. A sempre ótima Todavia lançou aqui o seu Golias, simplesmente um dos melhores gibis que li nesse século. Ele pegou a famosa história bíblica do gigante filisteu e a contou do ponto de vista do vilão, o próprio Golias. Subverteu tudo, mostrou toda fragilidade humana perante os desafios da vida e ainda deu verossimilhança (na medida do possível) a um dos embates mais conhecidos pela humanidade. Ah, tudo com um humor meio melancólico, meio bobo, que faz rir e pensar na mesma proporção.

Claro, é sempre bom dar uma conferida nas imagens, porque o traço dele pode não agradar a todos. É meio simples, esquisito às vezes, e ele abusa de retícula e nas formas. No entanto, vale a pena superar essa “barreira”, caso não seja uma arte do seu gosto. Primeiro porque ele sabe contar uma história muito bem, usando a narrativa dos quadrinhos a seu favor de maneira exemplar. Segundo que seus diálogos são todos muito, mas muito bons. Não tem nada fora do lugar, nem as piadas. E tudo a serviço da história. Terceiro, por fim, porque o cara tem umas ideias tão doidas e fora do lugar que você fica instigado somente pela sinopse. E não quero dizer aqui que se trata de quadrinho adultão, para você pensar na vida e na sua existência. Essa camada também está lá, caso você goste. Mas a diversão de ler um bom gibi é cristalina em suas histórias. Tem para todo mundo.Em Guarda Lunar, como o título indica, seguimos o cotidiano de um policial que vive na Lua. Sim, a humanidade chegou lá e agora nosso único satélite se tornou uma colônia. Uma pequena, igual àquelas cidades de interior no meio dos Estados Unidos que vemos nos filmes (quase sempre de terror – e aqui não é uma dica/spoiler). Nesse cenário, nosso protagonista mantém uma taxa de “aproveitamento” de 100%, com todos os casos resolvidos. E eles se resumem a procurar bichinhos de estimação sumido, porque nada acontece na Lua. Gauld aproveita para, com um toque leve de humor, discutir o dia a dia das pessoas comuns, numa comunidade pequena, onde nada acontece e as pessoas só estão preocupadas em viver e trabalhar. Sem estresse, sem trânsito, sem muitas opções. Sem soar melancólico demais, vemos nosso protagonista tentando viver nesse ambiente, sem um “até que” de muito impacto.

Já assistiu Lunar, do Duncan Jones? Filmaço com um clima semelhante.

Insisto numa coisa: Gauld não soa pedante, filosófico em excesso ou muito inteligente para nós. O humor é sutil, mas visível, e a história é fluída, boa de acompanhar. Mesmo parecendo que nada acontece, você vai se interessando pelo desenrolar da história e se pega pensando em várias coisas que pipocam aqui e acolá. A edição da Todavia – editora que gosto bastante do trabalho, seja pelo editorial competente, seja pela variedade dos títulos – está muito boa, nesse formato quase quadrado devido à forma como o autor criou a história. O preço é sempre caro para mim, então vai de cada um. Espere a hora certa que dará certo.

 

  

Roteiro: Tom Gauld

Arte: Tom Gauld

Editor: 

Capa: Tom Gauld

Publicação original: Mooncop (setembro de 2016)

No Brasil: fevereiro de 2021

Nota dos editores:  2.5


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