Oleg é o primeiro gibi do suíço Frederik Peeters que leio. Os outros trabalhos publicados – e muito elogiados – no Brasil eu não li por qualquer circunstâncias dessas da vida. No entanto, sei do que se trata e acredito que os elogios feitos não foram em vão. É sempre bom ter suas expectativas atendidas, não é mesmo? Foi o que me aconteceu na leitura de Oleg. Suas 180 páginas passaram voando, o que é uma pena: afinal, é uma grande história, dessas que você sente prazer na leitura e fala “é por isso que ainda leio gibis”.
Oleg é todo em preto e branco e a arte de Peeters fica naquele “limbo” entre o realismo e o cartunesco que eu particularmente adoro. Você se envolve rapidamente pelo seu desenho, que te aproxima dos personagens, por suas reações e escolhas, além de não ter preguiça nos cenários. Os quadros são recheados, para você olhá-los com calma, passeando junto a Oleg, o protagonista mais cativante que você terá contato esse ano.
De acordo com o próprio Peeters, Oleg é autoficcional e não autobiográfico, como seu grande sucesso Pílulas Azuis. Em entrevista a Télio Navega publicada no jornal O Globo, o quadrinista suíço diz:
Oleg não é uma continuação de ‘Pílulas Azuis‘ porque teria sido banal fazer isso. (…) Em vez disso, Oleg é um jogo de desconstrução (com a palavra LEGO e com a expressão, em francês, l’Ego, o ego), uma narrativa em abismo, um livro-espelho e uma reflexão irônica sobre como escrever autoficção na era das mídias sociais e do narcisismo generalizado. Escrever em primeira pessoa é bem diferente de fazer o mesmo em terceira.
Oleg, então, encara questões que seu criador também passa: perguntas constantes sobre a continuação de seu maior sucesso de público e crítica (o próprio Peeters afirma que nunca pensou em fazer um segundo volume ou mesmo voltar ao gênero autobiográfico), sobre desenhar para outros roteiristas, desnuda seu processo criativo, as formas que encontra para alinhar os pensamentos, a construção caótica de uma obra e, claro, uma declaração apaixonada à sua família. Casado há vários anos, Oleg/Peeters ainda é apaixonado por sua esposa. E tem que conviver com uma filha adolescente, gerando cenas hilárias.
Nesse meio, enfrenta temas atuais e sensíveis, sem ficar em cima do muro nem soar “lacrador” para olhos mais raivosos. Acompanhar a vida de um autor, seu processo criativo, seus contatos profissionais é uma delícia. Mas é no ambiente familiar que Oleg se destaca, seja por sua simplicidade, seja por sua honestidade.
Para encurtar, procure agora Oleg e leia assim que estiver em suas mãos. Você se sentirá melhor ao final da leitura e verá que, infelizmente, as 180 páginas passam voando.
Roteiro: Frederik Peeters
Arte: Frederik Peeters
Editor:
Capa: Frederik Peeters
Publicação original: Oleg (janeiro de 2021)
No Brasil: fevereiro de 2021
Nota dos editores: 5.0