SOS Gotham City

Em Gotham City Contra o Crime (Gotham Central no original), você sabe bem, a dupla de roteiristas Ed BrubakerGreg Rucka mostraram o cotidiano da polícia que mais trabalha no mundo dos gibis (empatado com a polícia de Nova York. Em Metrópolis, certamente é o Corpo de Bombeiros que mais sua a camisa). O seu vigilante mais conhecido, como próprio título indica, era um mero coadjuvante. Uma ideia óbvia, que mostrou-se genial: descobrimos que queríamos ler mais sobre aqueles policiais e como eles se viraram numa cidade conhecida pela violência, criminosos espalhafatosos e corrupção como norma.

De forma indireta, passeávamos pela cidade onde nasceu Bruce Wayne e, consequentemente, o Batman. Seus bairros mais conhecidos, suas avenidas largas, seus becos escuros e perigosos. Lembro que, vez ou outra, aparecia num formatinho perdido da Abril Jovem um card ou guia falando desses bairros ou mostrando o mapa da cidade. Informações bobas que adorava ler. Gotham estava muito bem encrustada na nossa mente – e era bem conhecida de quem não acompanhava os gibis. Qualquer pessoa na sua família entende quando você fala de Gotham: é a cidade do Batman.

Seu filho mais conhecido cresceu como herói, ganhou um novo status no universo fictício, na editora que o publica e até mesmo na (mal) chamada cultura pop. Batman estampa inúmeros produtos e todos o conhecem. E todos sabem o quanto ele é BOM. Determinado, incansável, forte, inteligente, mas sem qualquer tipo de poder especial. Grant Morrison foi, sem dúvidas, o principal responsável por tornar o Batman algo ainda maior. Um herói onipresente. E praticamente invencível, característica outrora exclusiva dos meta-humanos.

Com isso, os vilões tiveram que se virar nos 30 para conseguir derrotá-lo de alguma forma. Tom King, escritor da mais recente grande passagem (no sentido longevo da coisa) pela mensal do morcego deu uma acelerada nesse processo e deixou o Batman ainda mais invencível. Para não ficar chato, deu continuidade ao processo interminável de tornar Coringa e Arlequina vilões poderosíssimos (e igualmente onipresentes). A doutora Harley Quinn, especificamente, nem vilã é mais. King tomou gosto e trouxe de volta o Bane indestrutível e cerebral, turbinou o Charada e agora temos inimigos em pé de igualdade com o herói. Recentemente, James Tynion IV (atual roteirista da revista Batman) vem ensaiando (estou comedido aqui) colocar o Espantalho nessa galeria ultraforte dos inimigos do morcego.

E o que Gotham tem a ver com isso?

Bem, a cidade que ficou marcada por décadas como centro da corrupção do universo DC, finalmente parece ter encontrado o caminho ainda mais próximo da realidade. A cidade dos políticos, juízes e policiais corruptos deve estar fazendo a festa das grandes empreiteiras – e isso não é mostrado nos gibis, OK? Sou eu no campo da fanficagem safada.

Por que isso agora?

Faz uns dez anos, pelo menos, que é difícil num arco de Batman que a cidade não seja destruída, venha abaixo como se passasse, veja bem, por um terremoto ou uma grande praga. Bane a botou abaixo. O Coringa entrou numa guerra, dominou a cidade inteira e, claro, a botou abaixo. Agora é a vez do Espantalho infernizar toda a cidade, com mais destruição. Os gibis do Batman tem mais incêndios por página do que qualquer frame do Zack Snyder.

Eu comecei a me tocar nisso lendo as últimas edições da mensal. Estamos sempre nisso: vilão megaforte destruindo a cidade, derrubando tudo, incendiando tudo, não sobrando quase nada. Nem a bat-caverna sobrou (agora temos microcavernas nos esgotos). Todo arco vem com uma destruição tão sem precedentes que a dupla Brubaker/Rucka deveria retornar somente para contar como grandes construtoras estão financiando experimentos no Arkham. Porque não é possível! Veja que nem quero mais saber de Batman detetive, chão de fábrica, que cai nas ruas em busca de solucionar os crimes, ao invés de resolvê-los pelo iPhone.

É melhor dar logo poder de voo para todo mundo, superforça por todos os lados e que não sobre pedra sob pedra de Gotham City. Acabaram as ideias?


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