Crise no mercado editoral: as bancas de revistas

A notícia do momento é o pedido de recuperação judicial da Editora Abril. Com dívidas estimadas em R$ 1,6 bilhão, o grupo, que já foi um dos maiores do Brasil e durante muito tempo foi sinônimo de quadrinhos no país, entrou com o pedido para tentar evitar a falência completa.

Mas o que isso significa para nós, leitores e colecionadores de quadrinhos?

Num primeiro momento, você pode apenas lamentar a ausência dos quadrinhos da Disney do mercado nacional, depois de mais de 60 anos sendo publicados ininterruptamente. Inclusive, a primeira publicação da editora foi a revista Pato Donald, em julho de 1950. Mas o buraco é beeeem mais embaixo.

Além da parte editorial, o Grupo Abril detinha o monopólio da distribuição de publicações para bancas no Brasil, através da Dinap/Treelog/Total. Esse monopólio se formou quando o Grupo adquiriu a Fernando Chinaglia Distribuidora, em outubro de 2007 e aprovada pelo CADE em maio de 2011. Com o recente pedido de recuperação judicial, os pagamentos da distribuidora para as editoras que utilizam seus serviços estão paralisados até que um plano de pagamento seja apresentado. Isso é um baque enorme em um mercado que já vinha capengando há algum tempo.

A situação dos lojistas, que já vinham enfrentando uma crise na venda de impressos, se agravou ainda mais. Os pontos de venda vem diminuindo gradativamente e eles precisam se reinventar. Em Maceió, são pouquíssimos os pontos que sobrevivem apenas com a venda de impressos, e eles só mantém isso por limitação do local, já que eles se encontram dentro de shoppings ou supermercados, e por isso não podem diversificar os produtos que são comercializados. As bancas que permanecem no mercado viraram pequenas lojas de conveniência, onde a maior parte da receita vem de vendas de refrigerantes, cerveja, sorvetes e outros produtos relacionados.

Júnior Santos é dono de duas bancas de revistas na capital alagoana. Uma, mais antiga e que pertenceu à sua mãe, fica numa região periférica, na entrada de um condomínio com mais de 200 apartamentos. A outra fica na orla marítima, na região mais nobre da cidade. Nos dois pontos, o carro-chefe não são os impressos. Na primeira, a venda de garrafões de água mineral, sorvetes e refrigerantes é o que sustenta o ponto. Na segunda, o grosso do lucro vem da venda de cervejas, sorvetes e outras amenidades, principalmente nos finais de semana, quando a avenida é fechada e se torna uma grande área de lazer. Quando conversamos com ele, no último domingo, as vendas de impressos do dia se limitaram a 3 quadrinhos e uma edição de Veja.

Porém, a dificuldade com a distribuição vem de antes do pedido de recuperação judicial. Apesar da queda das vendas de impressos, um seguimento continuava vendendo relativamente bem: os colecionáveis. Isso inclui desde os quadrinhos até as coleções de editoras como Salvat, Eaglemoss, Planeta DeAgostini e Caras. Porém, devido à problemas de distribuição, essas coleções eram extremamente afetadas. Não era raro um colecionador ficar sem algum número simplesmente porque a banca não recebia aquela edição, apesar das vendas consistentes das edições anteriores. Júnior me contou um caso de um cliente que fazia uma coleção de uma miniatura do Opala, cuja cada edição custa em torno de R$ 50,00, ficar sem os 4 últimos volumes para completar a coleção de 100 edições porque o ponto de venda não recebeu esses exemplares.

Como a Panini já não utilizava os serviços da Dinap desde o ano passado, as publicações dela não estão sofrendo tanto como as das outras editoras. Salvat, por exemplo, anunciou a suspensão, até agora temporária, da distribuição dos seus títulos em bancas, até que a situação se resolva.

Com essa situação de caos na distribuição e a diminuição da relevância dos periódicos nessa era digital, fica claro que o ponto de venda que sempre formou os leitores brasileiros precisa se reinventar para continuar relevante.

Mas, como fica a situação de lojas especializadas em quadrinhos? Isso é um assunto para um próximo post.


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