Uma conversa interminável…

Ao acompanhar o Twitter, ouvir podcasts e ler textos sobre gibis, a impressão que fica é estarmos presos num loop maluco e melancólico de assuntos inesgotáveis, mais pela “renovação” constante da temática que se repete do que pela nossa própria falta de assunto. Então toda hora aparece problema na distribuição, aumento bizarro de preços, formato do formato, diminuição dos pontos de venda, erros editoriais constantes, enfim, a mesma coisa de novo e de novo (inclusive por aqui, de acordo com os links). As histórias estão cada vez mais em segundo plano e muitos reviews ignoram completamente esses assuntos acima, como se eles não existissem ou não fossem importantes.

Parece contraditório, não? É para falar ou não dessas coisas, afinal?

Sim e não. Deveríamos focar nas histórias mesmo, no roteiro, no arco, nas confusões cronológicas que amamos odiar, conversando sobre nossos autores preferidos, nossas histórias preferidas, nossos personagens preferidos, fazendo listas, defendendo listas, em resumo, sendo leitores que sempre fomos. Por outro lado, os irritantes e repetitivos problemas editoriais que estão além das histórias não podem ser ignorados. Somos leitores, sim, mas também somos consumidores. Não dá para comprar um gibi e ignorar que ele está muito caro – sobretudo nesses tempos em que vivemos, com pandemia que igualmente não termina -, e mesmo sendo caro, não possui a qualidade que deveria ter pelo preço cobrado. E qualidade não é sinônimo de papel gostoso e capa dura. Ao menos não deveria ser.

Porém, cada vez mais parece que por ter capa dura e um papel gostoso no encadernado automaticamente isenta de todo o resto que envolve a produção do gibi, sobrando apenas a história. Falemos da história, o resto é falta do que fazer. E assim seguimos, cada vez mais polarizados, com a balança pendendo mais para o lado fã do que para o lado consumidor. O resultado são preços ainda mais altos e qualidade péssima no material. Junto a isso, o eterno problema da renovação de público, com gibis cada vez mais de luxo – o luxo do luxo -, segmentado, caro, feito para se colocar na estante. Se o problema é que não estamos falando das histórias, por quê faríamos isso se parece que se compra para ter e não para ler? Às vezes tenho a impressão que gibi virou latinha de refrigerante, tampa de garrafa de cerveja, rolha de vinho: itens colecionáveis.

Sendo que no caso desses, a gente bebeu o conteúdo antes de guardar e juntar na coleção. E além de falar da bela latinha de cerveja, de sua arte bonita, falamos também do sabor da mesma.


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