“Eu tenho 38 anos. 38 anos. E acho que lutar boxe é a única coisa que eu sei fazer da minha vida.” Dessa forma, Fabrizio “Fabuloso” Figueiredo, mais conhecido como “O Rei do Boqueirão”, define sua vida ao fim da luta em seis rounds contra Raul “Seis Cabeças” Quintino. Em disputa, o cinturão municipal de boxe amador de São José dos Pinhais (Paraná). Quase metade do gibi de 28 páginas (num formatão 21 x 29,7 cm, colorido num papel polén bold 90g) é a luta travada entre os dois boxeadores. Cada round dura exatamente duas páginas. E como é possível termos 368 cenas num gibi tão curto? Veja a imagem abaixo e entenda:
Toda a revista é exatamente nesse esquema (somente no final tem algumas páginas com um desenho bem maior, num formato que ficou bem bonito). Se o traço do carioca Alexandre S Lourenço não te fisgou, é na narrativa que ele deita e rola. É algo que beira o absurdo a dinâmica da história, com você acompanhando a luta como se estivesse vendo pela televisão, golpe a golpe. E tome troca de jabs, diretos, cruzados, ganchos, uppercuts, agarrões, intervenções do juiz e as orientações dos técnicos ao fim de cada round. Além, é claro, da conversa entre os lutadores ao longo da luta, com provocações de todo tipo. É você no melhor lugar do ginásio, assistindo a um grande confronto.
Assim, as 12 primeiras páginas são dedicadas apenas ao combate, como você pode ver nas imagens que ilustram esse post. A leitura flui na velocidade da luta, com você acompanhando cada movimento no ringue da forma mais real possível. É impressionante! Ao término da peleja, seguimos os passos de Fabuloso, que, digamos, volta ao mundo real: a dificuldade de voltar para casa (e a longa distância percorrida), o problema do filho, o seu emprego de professor que não paga o suficiente, da mesma forma que as lutas, que dependem de uma série de fatores para render algum dinheiro para o veterano boxeador.
Em entrevistas, Lourenço contou que Boxe nasceu por meio de um simples rascunho. Ele desenhou o lutador e, em seguida, um oponente. O próximo passo só poderia ser os dois se enfrentando. Essa revista foi o primeiro lançamento do selo La Gougoutte, estúdio homônimo situado em Curitiba e capitaneado pelo próprio Lourenço em conjunto com os também quadrinhistas Bianca Pinheiro, Yoshi Itice e Greg Stella. Na CCXP 2018 entrevistamos Lourenço e ele falou um pouco mais sobre esse gibi e o selo (confira aqui).
Boxe é o tipo de obra que faz você ter certeza que certas histórias só são possíveis de serem contadas num gibi. As possibilidades narrativas da nona arte parecem infinitas e essa HQ é mais um grande exemplo disso.
Roteiro: Alexandre S Lourenço
Arte: Alexandre S Lourenço
Editor: Alexandre S Lourenço e Greg Stella
Capa: Alexandre S Lourenço
Publicação original: agosto de 2017
No Brasil:
Nota dos editores: 3.8