Belas Adaptações

Após alguns anos de indefinição, o famigerado projeto de levar para as telinhas o romance Deuses Americanos, de Neil Gaiman, finalmente ganhou luz verde, foi executado, rendeu uma estupenda temporada debute (com 10 episódios) e seu ano 2 já se encontra em pré-produção com retorno garantido em 2019. A opção de entregar a adaptação às mãos do incompreendido e mal-agourado showrunner Bryan Fuller foi corajosa e até inspirada, haja vista que dificilmente tu vês por aí direções de arte com tanta identidade, arroubos sombrios e momentos de surrealismo puro quanto à de produtos como Pushing Daisies ou Hannibal. Algo, portanto, fora da curva e totalmente cabível a uma das mais belas e complexas crias do Senhor do Senhor dos Sonhos.

A notícia ruim é que Fuller, nesse meio-tempo, abandonou a produção de Deuses e mais outros dois projetos em andamento, Star Trek: Discovery e Crônicas Vampirescas. Pelo visto, a expertise do produtor vem junto com um gênio difícil e/ou errático, custando caro aos estúdios dar prosseguimento técnico ao norte estético estabelecido por ele nos programas. Coube a Jesse Alexander (Heroes, Lost e Alias) a tarefa hercúlea de continuar de onde Fuller parou em Deuses – o que dada suas credenciais, ênfase em hercúlea.

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Fato, contudo, é que Deuses Americanos vingou e um punhado de outras obras de Gaiman começaram também a ganhar formatos live-action, a exemplo do longa-metragem baseado no conto Como Falar com as Garotas nas Festas¹ e a minissérie (de 6 episódios) para a TV que adalpta o romance Belas Maldições. Curiosamente, um termômetro que, aparentemente, deve ter servido para que produtores-executivos avaliassem o potencial desse último foi a radionovela Good Omens, veiculada pela BBC Radio em abril de 2015.

¹ Recentemente transposto por Fábio Moon e Gabriel Bá numa edição bem honesta da Quadrinhos na Cia. E um detalhe saltou aos meus olhos: no texto em prosa de Gaiman, eu tentava dimensionar esse olhar raivoso do universo (ou Stella), mas nunca cheguei a uma conclusão mental sobre que aspecto ele teria; os gêmeos simplificaram para mim e desenharam uma Fênix Negra! Veja:

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Sobre Belas Maldições…

…o romance foi escrito a quatro mãos por Neil Gaiman e Terry Pratchett (Discworld). Publicado originalmente em 1990, só foi lançado no Brasil oito anos mais tarde pela Bertrand Brasil. Para efeitos cronológicos, pode-se dizer que foi o primeiro romance de Gaiman e narra com um humor negro ímpar a história de Adam Young, o Anticristo em pessoa, um garoto de onze anos de idade que deveria engatilhar o Apocalipse, mas como fora trocado na maternidade e criado por uma típica família britânica, tudo que ele deseja é se divertir com sua “gangue”.

Paralelo a sina de Adam, somos apresentados a Arizaphale, o arcanjo do Portão Leste do Jardim do Éden e Crowley, a serpente que instilou Eva a morder aquela maldita maçã. Dois amigos improváveis que gostam de viver entre os humanos e têm exatos três dias para sabotar esse suposto cataclismo bíblico.

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Na contramão, querendo acelerá-lo, temos os quatro Cavaleiros do Apocalipse: Guerra é uma linda mulher que alimenta discórdia onde quer que passe; Fome é um CEO do ramo alimentício que inventou uma comida industrializada que nem engorda e tampouco alimenta; Morte é um senhor de poucas palavras; e Poluição, que tomou o lugar de Peste após ela se aposentar em 1929 com a invenção da Penicilina.

Belas Maldições é daqueles livros que tu esqueces de respirar, e tal como Deuses Americanos sempre foi alvo de especulações quanto a adaptações para outras mídias. Com a participação ativa de Gaiman nos bastidores, a aludida radionovela da BBC pulou toda a burocracia de Hollywood e acabou entregando um produto² que sobrepujou as limitações de um audiobook, estimulando a imaginação com boas atuações e efeitos sonoros que capturam a atenção dos ouvintes. À primeira vista parece démodé, mas o que a rádio inglesa fez foi levar os podcasts para outro nível³. Como editor do 7 Jagunços, falo por mim, eu acho um barato e tento fazer algo  – mambembe, é verdade – nessa pegada nas nossas intros.

² Que por acaso é também uma bela homenagem post mortem.
³ Um nível muito acima de uma radiodifusão dominada por forrós, pagodes, sertanejos…

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Para promover essa adaptação, a BBC Radio encomendou galerias de arte com passagens e personagens de Belas Maldições. Todas são intrigantes, mas as composições de Sean Phillips (Kill or be Killed), reproduzidas acima, são o creme do milho, em especial a do Gaiman com o sabre flamejante – a propósito, rendeu até belas camisetas. Por último, ainda sem prévias em vídeo ou data para ia ao ar pela Amazon/BBC, o que temos para hoje é essa ótima caracterização de Crowley (David Tennant) e Aziraphale (Michael Sheen), que deixou o Gaiman felizão:

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