Asterios Polyp

5.0

NOTA DO AUTOR

Sempre que escuto/vejo o nome de David Mazzucchelli em algum lugar, me pergunto quantos trabalhos são necessários para que um artista se sagre mestre das histórias em quadrinhos? Antes de enfrentar a pergunta, uma nota mental se faz necessária: só escuto/vejo esse nome em A Queda de Murdock e Batman Ano Um. Fim da nota mental. Pois bem, as duas obras certamente lhe credenciam não apenas ao título de mestre, mas também ao cargo de professor da disciplina comic book storytelling da renomada School of Visual Arts, localizada em Manhattan, Nova York.

Publicado em outubro de 2011 pela Quadrinhos na Cia., sua premiada obra, Asterios Polyp, atesta que além da precisão realista de outrora, seu traço também assume com bastante naturalidade a estética cartum, flertando, inclusive, com o surreal ao construir enquadramentos que configuram a visão de mundo das personagens – a exemplo da inebriante representação do Self. Por sinal, os anos de autoexílio na indústria dos quadrinhos também serviram para que Mazzucchelli destilasse, enquanto soluções de roteiro, sua experiência na docência. Logo, não por acaso, tal como o autor, a arte daquele personagem oferece aos alunos apenas uma dimensão abstrata de suas verdadeiras habilidades, isto é, Asterios é um renomado “arquiteto de papel”, cujos projetos destinam-se a publicações científicas ininteligíveis e não especificamente aos aspectos práticos de construções reais, o que lhe confere a distinção como membro da academia que leciona.

Por outro lado, caso o leitor deseje interpretar o criador e a cria como extensões do indivíduo creditado na obra, é bem possível que o cinismo com que o academicismo é encenado através do personagem-título soe como uma autocrítica do quadrinista sobre o longo período distante do mercado editorial. Contudo, uma leitura reducionista de Asterios Polyp só a enxergaria assim, como uma materialização do jargão “quem sabe, faz; quem não sabe, ensina”, subestimando, portanto, a capacidade de Mazzucchelli de não subestimar a inteligência do seu leitor. Na verdade, o dilema humano dessa obra reside na busca dos sujeitos por interação, de encontrar uma linguagem que dialogue com o outro não apenas no nível vocal, mas em compatibilizar o incompatível.

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Para o Professor Asterios/Mazzucchelli, quanto mais cedo se decodifica esse código, mais são as chances – em um milhão – de que o indivíduo algum dia crie seu próprio conceito de felicidade. Na dúvida, de hoje em diante, releia Asterios Polyp pelo menos uma vez por ano para que o aplique em algum departamento desativado de sua vida.

 

  

Roteiro: David Mazzucchelli

Arte: David Mazzucchelli

Editor: 

Capa: David Mazzucchelli

Publicação original: Pantheon Books (julho de 2009)

No Brasil: Quadrinhos na Cia. (outubro de 2011)

Nota dos editores:  5.0


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