O público brasileiro teve contato com um Mathieu Bablet maduro, por meio de Shangri-la, lançado aqui pela mesma SESI-SP Editora em 2018 – lá fora, saiu em 2016, sendo grande sucesso de público e crítica, com direito a participação em várias premiações europeias. Com A Bela Morte, temos oportunidade de conhecer seu primeiro trabalho, publicado originalmente em 2011, por um Bablet bem jovem. Em 2017, Bablet revisou e deu uma ampliada em A Bela Morte, que é a versão do SESI-SP. Da mesma forma que Shangri-la, temos aqui uma obra de ficção científica que apresenta um mundo bem estruturado e explorado pelo autor, ao longo de suas 160 páginas.
Então, não espere apenas um futuro pós-apocalíptico, um mundo totalmente destruído, com uma civilização em ruínas, tendo um único sobrevivente humano vagando por uma Terra infestada por insetos alienígenas gigantes que chegaram aqui sem mais nem menos. Até porque tem quase tudo isso. O tal único sobrevivente morre nas primeiras páginas, assassinato acidentalmente por um dos três outros sobreviventes que aparecem na história. A partir daí seguimos Wayne, Jeremias e Soham vagando por uma cidade aos pedaços, tentando sobreviver, dia após dia, protegendo-se dos insetos e buscando abrigo e comida.
Mathieu Bablet não tem muita pressa e, na sua história em cinco partes, vamos tomando par do que aconteceu e das possibilidades futuras desse mundo. O cenário por onde vaga o trio é bem sólido, bem construído, e os desenhos soberbos do autor ajudam a consolidar bem a ideia geral de como ficou a Terra após a invasão alienígena. As cores, ora em tons pastéis, de amarelados a azulados, passam essa noção de desolação, de falta de esperança, quando acordar vivo é seu maior desejo. Sua arte não é realista, caso você esteja se perguntando, mas isso não significa que ele não seja detalhista, o que nos aproxima ainda mais da situação posta. Seus humanos tem traços caricatos – que não destoam no clima geral – e sua narrativa é bem intensa, apresentando cenários lindíssimos em quadros imensos (a dimensão do álbum é ideal nesse sentido: 30,8cm x 23,2cm).
Em certos pontos, a história dá uma cansada. No entanto, a solução final é absurdamente excelente, dessas que te deixam feliz – não pelo final feliz em si, mas por compensar a leitura de mais de 150 páginas de história. O andamento me cansou um pouco (mas aí é mais problema meu do que do álbum), ainda que visualmente seja uma viagem incrível. Quanto à edição, não canso de elogiar o trabalho gráfico e o esmero da SESI-SP com seus produtos, e o preço sugerido (R$ 89,00) é bem salgado, para um livro de 160 páginas. Do pouco que tenho da editora, não há nada em capa dura lá em casa – nem dessa magnitude. A SESI-SP vinha se destacando por respeitar o formato original, publicar com uma qualidade superior e manter capas cartonadas para obras de 60 páginas em média. Talvez não funcionasse com um material com esse volume e a capa dura fosse necessária… É um debate que perdemos.
Roteiro: Mathieu Bablet
Arte: Mathieu Bablet
Editor: Ankama Éditions
Capa: Mathieu Bablet
Publicação original: La Belle Mort (2011)
No Brasil: fevereiro de 2019
Nota dos editores: 2.0