X-Tudo Superior #11

Em outubro de 2019, com o final de House of X e Powers of X nos EUA, publicamos um texto com um panorama geral cheio de especulações, teorias e spoilers, que muitos leitores devem ter evitado apavorados. Agora, com a conclusão das duas minisséries na mensal X-Men da Panini, vamos reapresentar o mesmo texto, com leves alterações. Por nos importarmos com você, leitor querido, e também pra ganhar tempo enquanto a Panini não publica X-Men #5, que não somos bestas nem nada assim. Portanto, com vocês…

O PARADOXO HICKMAN (Novamente para alguns, pela primeira vez para muitos)

Como conciliar uma das cronologias mais complexas dos quadrinhos com uma trama acessível? Como produzir histórias que agradem tanto aos fãs de longa data, quanto aos recém chegados? Sendo um paradoxo ambulante chamado Jonathan Hickman. O escritor fez longas e complexas fases no Quarteto Fantástico e nos Vingadores, mexendo com as bases fundamentais do Universo Marvel e, pelo que vimos agora em Dinastia X e Potências de X, deixando conceitos e ideias que ele mesmo está retomando nas revistas mutantes. Da mesma forma, ele fez um gigantesco e minucioso estudo desses quase 60 anos de histórias de Charles Xavier e seus alunos. Portanto, nem temos histórias regurgitadas, nem nada de inédito nessa fase atual dos Filhos do Átomo. Hickman não está criando nem inventando nada de novo, mas também não está reeditando as sagas X mais famosas.

O sujeito conseguiu conservar temas, conceitos e cânones ao reinterpretar, retconear e redirecionar os X-Men. E, por incrível que possa parecer, conseguiu contar uma história do Universo Marvel em essência, expandindo as sementes plantadas ainda nos anos 1940, na Era de Ouro. Agora que já temos as bases da fase Hickman para as revistas X, estabelecidas com a conclusão das minisséries Dinastia X e Potências de X, muito foi esclarecido e exposto, mas muito ficou no campo da especulação ou do potencial. Entre o que ele já revelou, o que pode vir a acontecer e o que achamos que pode acontecer, surgiu esse pequeno compilado de incógnitas.

Afinal, nada mais natural que termos incógnitas na franquia… X. Uma rebelião dentro da revolução?

Primeiro de tudo, Hickman realizou o que seu amigo de longa data, Brian Michael Bendis, apenas ameaçou fazer: a tal Revolução Mutante. Agora pra valer, com o homo superior rompendo totalmente com a tentativa de coexistência harmônica com a humanidade. Mas existe um conceito parecido, que antecede Bendis e Hickman, criado por Peter David na mensal X-Factor: “A Rebelião Summers”. Embora tenha acontecido/vá acontecer em uma linha temporal aparentemente divergente, se encaixa com o momento atual, dadas as proporções, além de ter uma oportunidade ideal na mensal X-Men. O principal indicativo? Os integrantes da equipe principal. Agora temos uma unidade X liderada por Scott Summers, composta por Alex Summers, Jean Grey, Nathan Summers, Rachel Grey, Gabriel Summers e até aparições eventuais de Christopher Summers, o Corsário. Temos claramente uma equipe X da família Summers.

Com o clã Summers reunido e, principalmente, todas as possibilidades de acontecer também algum rompimento com o regime de Krakoa, dadas as manipulações e segredos envolvendo Moira MacTaggert, Xavier e seus aliados de passado suspeito… Hickman estaria preparando terreno para uma Rebelião Summers? A hora e a vez dos famosos “quem?”

Um dos pontos que mais chama a atenção nas duas minisséries recém concluídas é a valorização de mutantes que, apesar de terem conquistado fãs e certo destaque na cronologia X, sempre foram rotulados como buchas. Sabe como é, seja por conta de poderes não tão espetaculares ou bem aproveitados, acabaram ficando com fama de restolhos. Agora, Hickman inverteu as coisas.

Um dos mais valorizados é Douglas Ramsey, o Cifra. Graças ao seu poder de comunicação absoluta, Doug tornou-se o elo principal de diálogo com a ilha mutante Krakoa, criou o sistema de gerenciamento de tráfego para transporte instantâneo fornecida pela ilha e elaborou um alfabeto para facilitar a relação dos mutantes com sua nova nação. Mas, como em toda boa história, cria-se a ideia de que existe esperança com aquela falhazinha nas entrelinhas… Cifra possui vantagem singular sobre todos os outros mutantes! Agora, ele tornou-se uma engrenagem indispensável em uma máquina cobiçada por muitos. Hickman elevou o rapaz à um patamar de protagonista, mas fazendo isso pintou um belo alvo em sua testa.

Basta o vírus tecno-orgânico escapar de seu controle, algum governo ou corporação humana conseguir domínio sobre ele ou mesmo algum dos mutantes na ilha sabotar o planos e Doug pode ir de elo com Krakoa à ameaça do mais alto nível. Outros casos, como Forge e Sábia, são semelhantes, mas sem o mesmo potencial para conflito e desastre. Já o pequeno grupo de mutantes responsáveis pela “ressurreição” de outros, precisa de uma análise mais detalhada…

Éramos cinco

Aqui temos um conceito que é puro X-Men, para o bem ou para o mal. Da criação à reinterpretação da Fênix, passando pelas muitas mortes e formas de retorno de Xavier, aos clones do Sr. Sinistro e ao já desgastado “mas todo X-Man volta da morte mesmo”, não importa o roteirista ou fase, ressuscitar é coisa de mutante na Marvel. Então nada mais natural que Hickman organize logo essa bagunça, oficializando um método de superar a morte. Um grupo apelidado de “Os Cinco”, composto por mutantes que sempre sobraram e ficaram no segundo ou terceiro escalões, passou a ter uma finalidade quase divina: trazer de volta da morte os mutantes que passaram dessa pra melhor. Porém, intencionalmente ou não, Hickman criou um equívoco para o leitor. Não são cinco, mas seis integrantes da equipe. Sem um deles é impossível, por enquanto, realizar o tal milagre. O sexto ressuscitador seria o próprio Charles Xavier, encarregado de baixar o download de memórias/essência no corpo recém criado.

(O que também criou um dilema: Xavier implanta as memórias, mas isso não seria, exatamente, uma alma ou qualquer definição que se encaixe no sentido metafísico do que nos faz seres sencientes. Mutantes, portanto, são seres sem alma?)

Mas voltando ao tal sexteto, admitir que Xavier faz parte da equipe obrigatoriamente nos faz lembrar de outro conceito do Universo Marvel que tem elementos semelhantes. Seis prerrogativas específicas, dominar vida e morte, tomar as rédeas do mundo e fazer com que a própria vontade tenha poder… Os seis são as joias do infinito mutantes?

Xavier = Mente
Eva = Tempo
Proteus = Realidade
Goldballs = Espaço
Hope = Poder
Elixir = alma (?!?)

No mais, ainda sobre essa sequência, uma personagem que já foi muito importante, mas hoje estava pelos cantos, ganha destaque novamente. Hope Summers, a filha adotiva de Cable que já simbolizou o renascimento da raça mutante. A ruiva que agora está sendo apresentada como alguém cujos poderes otimizam e estabilizam os poderes de outros. Hickman teria algum plano de vincular Hope a outro ruivo com modus operandi parecido? Hope e Fabian Cortez seriam aparentados?

E antes de partirmos para outro tópico, um outro integrante desse grupo da ressurreição merece um comentário. Kevin MacTaggert, o Proteus, filho de Moira e Joseph. Agora, ele se mantém incorporado através de corpos sobressalentes feitos a partir do DNA de Xavier. Uma forma de, finalmente, se tornar “filho” de Charles? Sendo que, nesse cenário onde Moira já teria conhecimento prévio de vidas anteriores, a própria concepção de Kevin torna-se um ato planejado por ela, mesmo sabendo dos problemas que Proteus causaria inicialmente. Falando nela, agora são muitos os ângulos para se avaliar a Dra. Moira MacTaggert.

A doutora destino

Se Hickman planejou isto ou não, só o tempo vai dizer, mas a cena em que Moira encontra Irene Adler, a Sina, tem um potencial enorme. Em inglês, o codinome original de Sina é Destiny. E Moira, em sua raiz grega, era o nome dado às três entidades femininas encarregados do destino, com poder superior aos próprios deuses. E o que Moira se tornou, agora na fase Hickman, foi basicamente uma entidade capaz de interferir e controlar destinos. Será que teremos uma terceira integrante de uma possível trindade, junto com Irene e Moira?

E tem os Protocolos Orchis. Embora sejam uma resposta humana aos planos de Xavier, vale observar que, nessa realidade atual, foram as manipulações de Moira que conduziram Charles a anunciar a nova nação de Krakoa, com a revolução dos medicamentos milagrosos, o que serviria como gatilho para a ativação dos Protocolos, que por sua vez forçariam Charles a enviar uma equipe de ataque X até a Forja em órbita do sol, tentando impedir o despertar da Molde Materno e a criação do primeiro Nimrod. Moira tenta impedir eventos e acaba sendo responsável por eles.

Um ponto não esclarecido sobre Moira: seu poder mutante ativou-se aos 13 anos em sua primeira vida e, ao final dela, “funcionou”. Nas vidas seguintes, ela adquiriu consciência plena durante a gestação. Seu poder passou a funcionar antes de nascer? O que aconteceu na forja, ficará na forja?

Dois conceitos criados por Hickman enquanto escrevia os Vingadores estão sendo reaproveitados agora: a Forja foi construída parcialmente a partir de um Matador de Planetas, uma tecnologia dos Construtores/Engenheiros e também utilizando parte da estrutura inacabada da esfera de Dyson (ou de Stark, como o mesmo afirmou orgulhoso) que seria batizada de Sol’s Hammer. Especificamente sobre os acontecimentos na Forja, certos detalhes e informações ficaram em segundo plano:

– A Forja teve um atraso em sua ativação por conta de um erro das máquinas, que matou as formas de vida na estrutura. Talvez uma tentativa de ataque das máquinas contra humanos, disfarçado de erro?
– Krakoa foi comprometida durante a missão contra Orchis?
Mística disse ter se ”perdido” dentro da estação. O que ela pode estar escondendo?
– Molde Materno considera os humanos como seu “deus”, mas chama os mutantes “titãs”, um equívoco na interpretação mitológica? Os titãs antecederam os deuses do Olimpo. Os mutantes, até onde se sabe, sucederam os humanos.

Fatos isolados?

Eis que um dos piores vilões das histórias mutantes foi retconeado agora como um terceirizado de Xavier e Magneto. A missão da “biblioteca” genética de Sinistro muda completamente a forma como entendemos tudo que aconteceu envolvendo Scott, Jean, Madelyne e Nathan Summers. (E considerando o local do primeiro encontro entre Sinistro, Xavier e Magneto, um detalhe chama a atenção… Bar Sinister, Ilha M, Krakoa, até mesmo o Asteroide K na história no futuro. Ilhas. Isolamento. Hickman está fazendo um paralelo com a eterna condição dos mutantes?)

Falando em paralelos, durante a sequência em que Xavier e Doug Ramsey chegam em Krakoa, o traje de Charles igual ao de Cassandra Nova, a ideia de levar alguém que pode dialogar/comunicar/comandar uma entidade de grande poder (semelhante ao que Cassandra fez com Donald Trask III e o Molde Mestre na fase Grant Morrison), chama ainda mais atenção quando consideramos que Cassandra/Mummudrai e Charles despertaram suas consciências ainda na gestação igual à Moira em sua segunda vida. Moira pode ser um Mummudrai ou ter alguma relação com Cassandra?

Origens secretas

Pelo que Cifra entendeu no relato de Krakoa, havia uma ilha chamada Okkara, que foi invadida por entidades aparentemente vindas do mesmo Limbo de Belasco e Nastirth, onde Illyana viveu. Isso dividiu a ilha em duas, Arakko e Krakoa. Douglas e Xavier conversaram com Krakoa através de uma gigantesca face petrificada. No ano 1000, a Falange absorve uma máquina contendo uma cópia de um homo novissimo. Um “verso” sobre uma cidade na montanha sendo engolfada pelo sol. E não sei se reler esse monte de gibi maluco do Hickman causa danos aos miolos do leitor, mas de repente parece que nisso tudo acima tem alguma referência a Garokk, o Homem Petrificado, ligado à uma divindade solar, ligado à Terra Selvagem e, talvez, à Krakoa.

Teorias conspiratórias

E se a paranoia e a apofenia estão imperando, vamos logo conspirar: Forge explanou para Xavier sobre a grande quantidade de mutantes, que crescia exponencialmente, além de abordar a questão de “atualizações” dos back-ups mentais, quando o professor lhe propôs criar um sistema de armazenamento de cópias mentais. Isso poderia servir como um paralelo irônico usado por Hickman quanto a Xavier não ser mais o mesmo? A grande quantidade de mutantes na época poderia ser resolvida com o genocídio em Genosha? Se for assim, Cassandra Nova teria de ser reavaliada? Xavier estaria corrompido pelo contato com as memórias de Moira? Ou Sinistro teria uma influência maior do que se imagina? Chegamos ao final das duas séries e ao julgamento de Victor Creed, com sua condenação ao exílio. Caso mais mutantes sejam condenados e presos com Dentes de Sabre, teremos uma nova e pervertida versão dos Exilados?

O passado e o futuro existem agora

E, como foi dito no começo desse monte de conjecturas e especulações, Jonathan Hickman fez, acima de tudo, uma expansão do conceito original da Marvel Comics. Ele estabeleceu que o grande conflito mostrado na mitologia dos X-Men tem 3 frentes: mutantes, máquinas e os pós-humanos. Homo superior, inteligência artificial e humanos geneticamente modificados. Algo moderno e atual, você diria? Bom, dá uma olhada nos três primeiros super-heróis da Marvel: Namor, Tocha Humana e Capitão América.

Danadinho esse rapaz, o tal Hickman, hein?

NOS EUA – X OF SWORDS CONTINUA

EXCALIBUR #13

Em seu nono capítulo, a saga X of Swords traz mais uma boa história, dessa vez mostrando Betsy, Jamie e Brian Braddock empenhados em adquirir uma das espadas da profecia, enquanto lidam com as maquinações da própria profetisa, Opal Luna Saturnyne. A roteirista Tini Howard consegue manter o foco em suas próprias tramas e subtramas da mensal do Excalibur, enquanto faz sua parte no que interessa ao tal torneio místico que se aproxima. E, ei, Pepe Larraz desenhando mutantes, só isso já vale o gibi.

X-MEN #13

Uma edição inteira dedicado a En Sabah Nuh, com mais detalhes sobre o conflito que gerou Krakoa e Arakko, além de mostrar como Genesis e os Quatro Cavaleiros originais partiram para a dimensão sombria, onde combateram os demônios que tentavam invadir a Terra. Ao final, Apocalypse recupera sua espada. Bem burocrática, essa edição com o décimo capítulo de X of Swords. Não é ruim, mas não é boa. E nem vou falar mais dos diálogos pomposos que o Hickman empurra nos personagens, alguém precisa chegar pra ele e dizer “cara, sério, isso não tá legal”, pois realmente tá constrangedor.


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