Não faço ideia de quem seja Chris Condon. Chega uma hora da vida, com tanto gibi bom saindo de todos os cantos, que a gente só vai no certo. Saber quem é o roteirista ajuda bastante, metade do caminho andado. Uma outra forma é o artista envolvido, uma capa chamativa (Black Hammer me pegou assim), uma arte interna, indicação dos amigos ou a temática. That Texas Blood, por exemplo, me pegou pela temática. Lançamento da Image Comics no meio do ano, passou batido por um certo tempo nesse ano maluco. No entanto, graças ao pai do artista envolvido, descobri esse gibi. Sim, vi o grande Sean Phillips falando sobre e fui atrás. Em seguida a capa me fisgou: Jacob Phillips, artista que até já coloriu trabalho do pai, tem um estilo semelhante, graças a Deus (veja a capa).
Daí em diante foi uma sequência de acertos – o título (fala sério, é perfeito), a temática (faroeste moderno) e o gibi em si, é claro. Condon e Phillips não estão inventando a roda: uma morte misteriosa de um cidadão que ninguém queria por perto, um irmão há muito afastado de sua pequena cidade natal, texanos do interior, xerife cansado e perto da aposentadoria, ranchos, hotéis baratos, amores antigos e violência, muita violência. Sim, lembra bastante o excelente Onde os Fracos Não Tem Vez e isso é dito até no review oficial.
Fique claro que Jacob Phillips não emula o pai, mas você percebe o DNA da família em cada página, no estilo e nas cores. Está tudo ali, mas com uma personalidade própria que muito em breve vai se desenvolver cada vez mais. O próprio Sean Phillips evoluiu bastante, estando hoje, a meu ver, no auge (veja Kill or Be Killed). Jacob já demonstra o caminho que irá seguir mas, para nossa sorte, acertou em cheio nas referências visuais nesse começo de carreira.Condon, por seu turno, não deixa a peteca cair e nos apresenta uma boa história, com um mistério clichê e funcional, ótimos personagens e diálogos certeiros. A impressão é que, de fato, ninguém presta nessa cidade e que a violência faz parte da vida de todos, cada um a seu modo. Morrer de forma brutal parece não chocar ninguém e um corpo apodrecendo no deserto traz mais alívio do que consternação. E as coisas são assim porque são assim, restando apenas abrir uma cerveja e esperar por um novo dia.
OK, falando assim não parece ser o melhor gibi para lermos nesse final de 2020. De amargo, já basta todo esse ano interminável. Por outro lado, história boa também ajuda nessas horas, mesmo que seja uma tão carregada de sangue. Uma coisa garanto: você não dará viagem perdida. Seus olhos agradecem o passeio visual.
Roteiro: Chris Condon
Arte: Jacob Phillips
Editor: Eric Stephenson
Capa: Jacob Phillips
Publicação original: That Texas Blood #1-6 (jun-dez de 2020)
No Brasil: um dia, quem sabe...
Nota dos editores: 2.5