Barrier

3.5

NOTA DO AUTOR

Durante o carnaval de 2019, o desenhista paraibano Mike Deodato Jr. anunciou que estava deixando a Marvel após 24 anos trabalhando na Casa das Ideias. Na sequência, revelou seu novo trabalho, um projeto autoral junto ao escritor Jeff Lemire chamado Berserker Unbound, a ser lançado pela Dark Horse. Lemire vem publicando seus trabalhos autorais (em alguns casos, escrevendo e desenhando) há um certo, sendo mais um daqueles que largaram Marvel e DC Comics para se dedicar aos próprios projetos. A lista segue crescendo, em sua maioria escritores.

Um dos que lideraram esse movimento, Mark Millar, conseguiu unir sucesso de público e altíssimos ganhos financeiros, sacramentado com a venda de seu selo (Millarworld) para a Netflix. Brian K. Vaughan também largou Marvel e DC para se dedicar aos projetos pessoais, de onde pudesse ter controle absoluto sob suas criações. Millar e Vaughan são, para mim, os maiores expoentes desse “êxodo” e são muito representativos: Millar com sua parceria inédita com a Netflix; Vaughan com o Panel Syndicate, um projeto menor – e até aqui sem grande destaque. Inicialmente, o Panel publicava apenas o trabalho do roteirista ao lado do artista Marcos Martin e da colorista Muntsa Vicente; mais recentemente, expandiu o catálogo. E qual a novidade? Gibis digitais, pensados nesse formato (portanto, páginas horizontais prontas para serem lidas em seu tablet, sem necessidade de zoom), eliminando “intermediários” entre artistas e leitores: as histórias são publicadas no próprio site da plataforma e você vai lá e diz quanto quer pagar (inclusive nada). O slogan não poderia ser mais claro: “digital comics directly from creators to readers”. (O Panel Syndicate por si só merecia uma discussão à parte.)

Foi lá que veio ao mundo a minissérie em cinco partes Barrier. Nela, Vaughan explora a globalização, que parece encurtar cada vez mais o mundo, ainda que diferenças básicas nos afaste a todo momento, em especial a língua e as fronteiras entre os países. Num mundo em que a Europa se direciona para se tornar uma única grande nação, observamos a Inglaterra indecisa se permanece ou não na União Europeia. No caso dos Estados Unidos, o presidente fala a todo momento em construir um muro separando o país do México. Em Barrier, conhecemos uma fazendeira do Texas, na sua luta diária para tocar um rancho sem a presença do marido; e um imigrante ilegal de Honduras, que tenta fugir da violência local e dar uma vida melhor para sua família. E essas duas pessoas vão se encontrar num… Abdução!

Nesse momento, Martin e Vicente dão show. Criam um ambiente assustador, de onde não temos ideia do que está acontecendo, do que os alienígenas querem, o que falam, para onde vão. Nada. Estamos tão perdidos quanto o casal de protagonistas. Os artistas criam figuras singulares, em cenas para lá de detalhadas, onde a violência gráfica não dá trégua em momento algum. As cores de Muntsa Vicente são um espetáculo a parte, dando vida aos extraterrestres num ambiente inóspito e para lá de esquisito. Qualquer coisa pode acontecer ali.

Outro ponto do roteiro são os diálogos: ela fala apenas inglês; ele entende algo, mas só fala espanhol. E os balões não são traduzidos, causando a mesma estranheza em quem está lendo. Mesmo que isso não seja um empecilho, ficamos completamente perdidos quando os alienígenas aparecem. Essa sensação de não entender nada, de falta de comunicação, é o que Vaughan explora de maneira competente nesse trabalho, desaguando num final que faz pensarmos em certas questões que não estão muito distante de nossa realidade, nesses tempos de imigração e refugiados.

 

  

Roteiro: Brian K. Vaughan

Arte: Marcos Martin (cores de Muntsa Vicente)

Editor: -

Capa: Marcos Martin e Muntsa Vicente

Publicação original: Barrier Collected Edition (2017)

No Brasil: inédito

Nota dos editores:  3.5


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