Há anos uma das maiores instituições existentes para os leitores de gibis não funciona mais: o checklist mensal. Apesar do trabalho hercúleo e louvável empreendido (ou tentado) pelo UHQ e Planeta Gibi, esse suporte essencial morreu. E olha que ambos os sites dependiam da boa vontade das editoras: eles que pediam, ao invés de receber o material com os lançamentos. Agora, a Panini faz circular um checklist mensal em formato pdf (se você nunca recebeu um pelo zap, é porque está nos grupos errados). Muito bonito, completo, informativo: mas não adianta, porque desde sempre os lançamentos da editora chegam quando tem de chegar e não na data que eles mesmos informam. (Isso para não falarmos da tal “periodicidade especial”.)
É triste. Estamos na era em que informações chegam em tempo real em nossos celulares. Todas as capitais tem aeroportos minimamente estruturados. Até as ferrovias andam crescendo novamente. Logística virou assunto de pós-graduação. Tudo evoluiu. Mas ninguém consegue colocar um maldito gibi mensal na data estipulada. Às vezes, nem no mês estipulado! E com as distribuidoras quebrando, o cenário atual (e não futuro) é sombrio.
Ora, não é possível que a logística só não funcione no Brasil ou apenas para o seguimento “gibizinhos” o negócio seja problemática. Estamos fadados a quê? A voltar a distribuição setorizada? Preços diferenciados para regiões mais distantes? Distantes da onde? Com o sumiço dos pontos de vendas (agravados com a interminável pandemia), daqui a pouco teremos que ir até as editoras, em filas enormes, para comprar nossos gibis. Para piorar, os serviços de assinaturas desprestigiam (e até insultam) os próprios assinantes: o produto chega depois! Então para quê assinar? Qual a vantagem? Não ir à banca? Bom, já não vou mesmo: recebo o que chegou (chegou de facto) pelo zap, mando no privado meus pedidos, e os gibis são entregues na minha casa. E nem estou falando aqui da Amazon.
Temos nossa parcela de culpa nisso. Continuando tratando editores como celebridades, cujo trabalho é publicar nossos gibizinhos queridos, graças a Deus. O que seria de nós? A maioria de nós se comporta como fã e não como consumidor. Resultado: profusão de erros editorais vergonhosos e aparentemente sem solução, periodicidade desconhecida, preços cada vez mais elevados e uma distribuição que simplesmente não funciona. Aquela outra instituição, ir à banca atrás de algo e comprar três coisas que você nem sabia que existia, está mais viva do que nunca: entrar numa banca é sempre uma nova surpresa. Pode ter o que você queria, o que você não queria e até o que você esqueceu que queria. Ruim mesmo é quando você vai em busca da edição 2 e só encontra a 3. Como assim? Já saiu a três?
Aliás, encontrar uma banca está sendo igualmente uma grande surpresa.
Um comentário sobre “Leitores à deriva”